II / São Francisco de Assis*
Senhor, não mereço isto.
Não creio em vós para vos amar.
Trouxestes-me a São Francisco
e me fazeis vosso escravo.
Não entrarei, senhor, no templo,
seu frontispício me basta.
Vossas flores e querubins
são matéria de muito amar.
Dai-me, senhor, a só beleza
destes ornatos. E não a alma.
Pressente-se dor de homem,
paralela à das cinco chagas.
Mas entro e, senhor, me perco
na rósea nave triunfal.
Por que tanto baixar o céu?
por que esta nova cilada?
Senhor, os púlpitos mudos
entretanto me sorriem.
Mais que vossa igreja, esta
sabe a voz de me embalar.
Perdão, senhor, por não amar vos.
Carlos Drummond de Andrade
*O texto faz parte do conjunto de poemas “Estampas de Vila Rica”, que integra a edição crítica de Claro enigma. São Paulo: Cosac Naify, 2012.
Um aspecto do poema em que se manifesta a persistência de um valor afirmado também no Modernismo da década de 1920 é o
a) destaque dado às características regionais.
b) uso da variante oral popular da linguagem.
c) elogio do sincretismo religioso.
d) interesse pelo passado da arte no Brasil.
e) delineamento do poema em feitio de oração.
Os artistas brasileiros de diferentes escolas mostram interesse pela arte anteriormente produzida no Brasil, alguns exemplos são:
- Antropofagia e Pau brasil, de Oswald de Andrade
- Pintura primitivista, de Tarsila do Amaral.
O projeto modernista também se interessou pelo encontro da arte anterior brasileira.
Veja o quadro Morro da Favela, 1924, da fase Pau Brasil de Tarsila do Amaral.
Letra D