TEXTO PARA AS QUESTÕES DE 10 A 12
CAPÍTULO LIII
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Virgília é que já se não lembrava da meia dobra; toda ela estava concentrada em mim, nos meus olhos, na minha vida, no meu pensamento;—era o que dizia, e era verdade.
Há umas plantas que nascem e crescem depressa; outras são tardias e pecas. O nosso amor era daquelas; brotou com tal ímpeto e tanta seiva, que, dentro em pouco, era a mais vasta, folhuda e exuberante criatura dos bosques.
Não lhes poderei dizer, ao certo, os dias que durou esse crescimento. Lembra-me, sim, que, em certa noite, abotoou se a flor, ou o beijo, se assim lhe quiserem chamar, um beijo que ela me deu, trêmula,—coitadinha,—trêmula de medo porque era ao portão da chácara. Uniu-nos esse beijo único, — breve como a ocasião, ardente como o amor, prólogo de uma vida de delícias, de terrores, de remorsos, de prazeres que rematavam em dor, de aflições que desabrochavam em alegria,— uma hipocrisia paciente e sistemática, único freio de uma paixão sem freio,—vida de agitações, de cóleras, de desesperos e de ciúmes, que uma hora pagava à farta e de sobra; mas outra hora vinha e engolia aquela, como tudo mais, para deixar à tona as agitações e o resto, e o resto do resto, que é o fastio e a saciedade: tal foi o livro daquele prólogo.
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
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No último período do texto, o ritmo que o narrador imprime ao relato de seus amores corresponde sobretudo ao que se encontra expresso em
a) “prólogo de uma vida de delícias” (L. 13 14).
b) “prazeres que rematavam em dor” (L. 14 15).
c) “hipocrisia paciente e sistemática” (L. 16).
d) “paixão sem freio” (L. 17).
e) “o livro daquele prólogo” (L. 21 22).
Português, literatura
O ritmo empregado pelo narrador se assemelha a uma paixão sem freio.
letra D