O Comissário apertou-lhe mais a mão, querendo transmitir-lhe o sopro de vida. Mas a vida de Sem Medo esvaía-se para o solo do Mayombe, misturando-se às folhas em decomposição.
[…]
Mas o Comissário não ouviu o que o Comandante disse.
Os lábios já mal se moviam.
A amoreira gigante à sua frente. O tronco destaca-se do sincretismo da mata, mas se eu percorrer com os olhos o tronco para cima, a folhagem dele misturase à folhagem geral e é de novo o sincretismo. Só o tronco se destaca, se individualiza. Tal é o Mayombe, os gigantes só o são em parte, ao nível do tronco, o resto confunde se na massa. Tal o homem. As impressões visuais são menos nítidas e a mancha verde predominante faz esbater progressivamente a claridade do tronco da amoreira gigante. As manchas verdes são cada vez mais sobrepostas, mas, num sobressalto, o tronco da amoreira ainda se afirma, debatendo se. Tal é a vida.
[…]
Os olhos de Sem Medo ficaram abertos, contemplando o tronco já invisível do gigante que para sempre desaparecera no seu elemento verde.
Pepetela, Mayombe.
Consideradas no âmbito dos valores que são postos em jogo em Mayombe , as relações entre a árvore e a floresta, tal como concebidas e expressas no excerto, ensejam a valorização de uma conduta que corresponde à da personagem
a) João Romão, de O cortiço , observadas as relações que estabelece com a comunidade dos encortiçados.
b) Jacinto, de A cidade e as serras , tendo em vista suas práticas de beneficência junto aos pobres de Paris.
c) Fabiano, de Vidas secas , na medida em que ele se integrava na comunidade dos sertanejos, seus iguais e
d) Pedro Bala, de Capitães da Areia , em especial ao completar sua trajetória de politização.
e) Augusto Matraga, do conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, de Sagarana , na sua fase inicial, quando era o valentão do lugar.
literatura, personagens, capitães de areia
Letra D