Quanto ao “choque de civilizações”, é bom lembrar a carta de uma menina americana de sete anos cujo pai era piloto na Guerra do Afeganistão: ela escreveu que – embora amasse muito seu pai – estava pronta a deixá-lo morrer, a sacrificá-lo por seu país. Quando o presidente Bush citou suas palavras, elas foram entendidas como manifestação “normal” de patriotismo americano; vamos conduzir uma experiência mental simples e imaginar uma menina árabe maometana pateticamente lendo para as câmeras as mesmas palavras a respeito do pai que lutava pelo Talibã – não é necessário pensar muito sobre qual teria sido a nossa reação.
ZIZEK. S. Bem-vindo ao deserto do real. São Paulo: Bom Tempo. 2003.
A situação imaginária proposta pelo autor explicita o desafio cultural do(a)
a) prática da diplomacia.
b) exercício da alteridade.
c) expansão da democracia.
d) universalização do progresso.
e) conquista da autodeterminação.
Resposta
Primeiro, o autor mostra a menina pronta para deixar o pai, piloto americano no Afeganistão, morrer. Em seguida, ele nos pede para trocar a situação e imaginar uma menina afegã, na mesma situação, pronta para deixar o pai morrer lutando pelo Talibã.
Ou seja, ele nos faz imaginar o inverso, em um exercício de alteridade sobre a questão do sacrifício que o governo pede dos seus cidadãos. Achamos absurdo a simples existência de um homem bomba, mas achamos normal um piloto de caça morrer em combate. Vemos assim que não pensamos de maneira simétrica em relação a esses conflitos no mundo.
Letra B.