Veja esta poesia de Manuel Bandeira que inaugurou o modernismo. Perceba que ele começa falando sobre a estética anterior (parnasianismo e simbolismo: lirismo comedido e lirismo bem comportado). Ele inclusive cita exemplos de situações bem chatas para fazer um paralelo com essa estética “purista”. Em seguida, ele defende o lirismo livre, dos loucos, dos bêbados, abrindo caminho para o modernismo. Esse poema foi bandeira de luta dos modernistas. Perceba que não há métrica e os exemplos são cotidianos assim como no poema “Camelôs”.
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e
[manifestações de apreço ao Sr. diretor
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho verná-
[culo de um vocábulo
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com
[cem modelos e cartas e as diferentes
[ maneiras de agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare
– Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.