Olá! Negro
Os netos de teus mulatos e de teus cafuzos
e a quarta e a quinta gerações de teu sangue sofredor tentarão apagar a tua cor!
E as gerações dessas gerações quando apagarem a tua tatuagem execranda,
não apagarão de suas almas, a tua alma, negro! Pai-João, Mãe-negra, Fulô, Zumbi,
negro-fujão, negro cativo, negro rebelde negro cabinda, negro congo, negro ioruba, negro que foste para o algodão de USA para os canaviais do Brasil,
para o tronco, para o colar de ferro, para a canga de todos os senhores do mundo;
eu melhor compreendo agora os teus blues
nesta hora triste da raça branca, negro! Olá, Negro! Olá, Negro!
A raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro!
LIMA, J. Obras completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1958 (fragmento).
O conflito de gerações e de grupos étnicos reproduz, na
visão do eu lírico, um contexto social assinalado por
A modernização dos modos de produção e consequente enriquecimento dos brancos.
B preservação da memória ancestral e resistência negra à apatia cultural dos brancos.
C superação dos costumes antigos por meio da incorporação de valores dos colonizados.
D nivelamento social de descendentes de escravos e de senhores pela condição de pobreza.
E antagonismo entre grupos de trabalhadores e lacunas de hereditariedade.
LETRA B