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[Podcast] Da favela à medicina na federal: Como o Bruno estudou sozinho e passou em medicina na UFSC #046


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Sabe quando você conversa com alguém e depois fica pensando que essa história daria um filme?

Essa foi a história do Bruno, eu darei um pequeno spoiler: ele é negro, da favela e certa vez trabalhou como faxineiro em um hospital e lá decidiu ser médico, depois estudou online, com base zero e aprendeu para fazer a prova do ENEM, montou uma estratégia de prova e passou na federal de Santa Catarina.

         Hoje ele conta toda essa história, conta também o método de estudos com flashcards que ele usou e para casar tudo isso, hoje saiu o novo treinamento Sniper Simplifica no Meio do Ano, em que nós analisamos como estudar agora, poucos meses antes do ENEM, quando você tem matéria atrasada ou quando não está fácil estudar todas as matérias com aquele mesmo gás.

         A primeira parte nós vemos como priorizar algumas matérias, principalmente pensando em naturezas, qual a matéria mais importante e na segunda parte do treinamento, nós montamos uma estratégia para matemática, quais são os assuntos mais importantes pela T.R.I, quais são os assuntos que caem mais, isso tudo você encontra lá e o treinamento é gratuito, o link está na descrição. Vamos começar a entrevista.

Susane: Oi, Bruno. Obrigado por participar do podcast do RESUMOV, é uma honra entrevistar você, com essa história tão legal, de superação, de passar no curso que você queria. Muito obrigada!

Bruno: Eu que agradeço. É muito bom poder passar um pouco da minha experiência, da experiência que eu tive, da vivência como vestibulando, é sempre legal compartilhar.

Susane: Sim, com certeza. Vamos começar pela sua história. Quer contar para gente sua história de vida, sua história de quando era mais novo e até hoje?

Bruno: Vamos lá! Vou começar com meu nome, questão de apresentação mesmo para galera. Meu nome é Bruno Santos, eu sou natural de Minas Gerais, em Contagem, próximo de Belo Horizonte, a capital. Eu sou nascido na favela do Ressaca, no qual fica em Contagem também. A respeito da minha vida, pelos acontecimentos mais marcantes, como disse, sempre vivi lá na favela.

         Eu tive um ensino público que não era de qualidade, como a maioria das pessoas deve saber, eu me formei na sétima série, a minha mãe veio a falecer de câncer quando eu tinha meus 11/12 anos, foi um período de bastante maturidade, pois meu pai começou a passar por alguns problemas, foi quando comecei a morar sozinho com meus irmãos e foi quando comecei a amadurecer de verdade, onde tive que aprender a fazer coisas, como cozinhar, minha irmã ficava no telefone comigo horas ensinando como fazer as atividades domésticas, pois ela tinha que trabalhar e não tinha tempo de fazer almoço pra mim e meu irmão, isso foi umas das coisas marcantes.

         Eu tive uma experiência com o futebol, que foi mais ou menos nessa mesma época, com meus 13/14 anos, eu, como a maioria dos meninos que nascem na periferia, o pessoal quer ser cantor, que ser jogador, isso é uma realidade, e eu não fui diferente e graças a Deus eu tive a oportunidade de jogar em categorias de base, cheguei um tempo a jogar no Atlético, um tempo no Cruzeiro, foram momentos felizes, mas acabei me machucando e tive que trilhar outros caminhos, foi quando comecei a trabalhar em Minas, onde meu primeiro emprego vou no lava jato.

Susane: Você tinha quantos anos?

Bruno: Eu devia ter uns 14/15 anos, foi um momento triste, quando eu penso, pois o pessoal era muito sacana, e eu fico pensando hoje, que eu chegava no lava jato às 08:00 horas, eu almoçava no meio dos carros, saía de lá 19:00 horas para ganhar 30 reais. Hoje em dia que eu entendo melhor, eu não faria isso não, é uma momento que eu não acho muito justo.

Susane: Não tinha nem carteira assinada?

Bruno: Não, não era carteira assinada, era trabalho informal, eu não vou dizer que eu precisava para comer, porque lá em casa meu pai sempre trabalhou, minha irmã nunca deixou faltar nada para gente, mas era mais com relação as coisas pessoais, pois era adolescente e achei não achava muito favorável de ficar pedindo as coisas, tudo o que eu queria, toda hora, então fui trabalhar para isso.

         E eu trabalhava nesse lava jato concomitante com o ensino médio e algum tempo depois, meu pai trabalhou em uma empresa que tinha um programa de jovem aprendiz, onde saí do lava jato e fui trabalhar com jovem aprendiz, cumpri meu contrato e após a conclusão do contrato, eu não poderia ficar na empresa, pois era muito novo, quando saí de lá, eu tinha acabado de completar 16 anos, então voltei a trabalhar no lava jato, concluindo ali o meu ensino médio. Falando do ensino médio em si, eu sempre fui um aluno que tive facilidade em aprender os conteúdos, só que eu era muito bagunceiro, tinha problema direto na escola, meus pais tinham que ir lá para conversar com o pessoal, aonde cheguei a trocar de turno, pois falavam que eu era muito bagunceiro e fica atrapalhando os outros alunos, enfim, eu não tive uma experiência de ensino médio muito boa e acabou que saí do ensino médio sem saber muita coisa.

         A experiência que tinha com o trabalho era no lava jato e jovem aprendiz que eu tinha feito, eu me vi um pouco mais velho, me vi nessa situação, nisso, minha irmã tinha se formando em enfermagem, já tinha vindo para Santa Catarina e de certa forma conseguiu um emprego, um lugar para morar e coincidiu o período que saí do ensino médio com a situação de vida dela.

Susane: Então, ela foi um grande exemplo para você?

Bruno: Isso, exatamente. Uma coisa que quero deixar bem claro, querendo ou não, por mais inóspita que tenha sido a situação, tinha gente que era muito pior e essa situação elas ainda existem, onde minha irmã foi o pontapé inicial, porque acho que essa questão do exemplo, ela é muito importante. Eu me espelhava muito nela, a partir do momento que eu a vi fazendo uma faculdade, ser alguém, eu vi que era possível para mim, eu nem sonha com medicina, mas eu sabia que a medicina iria chegar, porque até então o estudo não era uma alternativa, eu queria jogar bola, ser jogador de futebol.

Susane: Quando você olha para seus amigos da periferia, perto de onde você morava. Quais os caminhos que eles tomaram?

Bruno: É até complicado de falar, porque teve gente que morreu, tem pessoas que estão tentando agora, tiveram aquele insite de ‘’preciso fazer alguma coisa’’ e estão começando a tentar estudar, tocar a vida, trabalhar, é complicado de julgar pelos caminhos que cada um trilhou, porque por mais que eu saiba que eles são pessoas boas. Não gosto muito de falar que minha mãe morreu, pois as pessoas poderiam me vitimizar a respeito disso, eu nunca falei à público, é a primeira vez, então é por isso que eu digo, se eu não tivesse dito a família que eu tive, os exemplos que eu tive dentro de casa, talvez não estaria igual eles, no mesmo caminho, talvez até pior, então é difícil falar o caminho que cada um trilhou.

Susane: Eu vejo você com 14/15 anos já trabalhava, morava nessas condições na favela, já trabalhava, já fazia de tudo, quando a gente pensa que no outro caminho que muitas pessoas com 14/15 anos estão em escola particular, tem tudo e não estudam, foi só uma reflexão, sem querer comparar, mas foi muito legal que você com todas essas condições, foi tentar trabalhar para comprar suas coisas.

Bruno: Graças a Deus, por mais ruim o lugar que nós viemos, lá em casa sempre foi ensinado o certo, é diferente do que o povo pensa, nem toda favela é ensinado o certo, mas acredito que a falta de oportunidade, a falta de apoio, os exemplos na vida da pessoa. É por isso que eu estou longe de um discurso meritocrata, falar que eu consegui sozinho, porque querendo ou não, eu sou um grande reflexo dos níveis de desigualdade dentro da própria desigualdade, por mais que estivéssemos numa classe social não favorável, dentro das condições sociais que eu estava, ainda era um pouco melhor e querendo ou não, isso favoreceu.

         Apesar dos esforços, não desmerecendo isso, ou seja, esse pouco melhor fez diferença, até mesmo na forma de pensar e que poderia conseguir. Eu digo isso, por exemplo, dentro da minha própria família em si, tiveram pessoas que trilharam, caminharam.

Susane: E antes da sua irmã, teve alguém que fez curso superior? Que teve uma vida bem diferente?

Bruno: Não. Para falar a verdade, minha irmã foi o pontapé inicial. Até hoje eu não sei as influências dela para isso, mas na minha casa, não, meu pai fez o segundo grau e minha mãe, antes de falecer, tinha feito o primeiro ano do ensino médio, mas depois que meu pai trabalhava, ele fez o EJA para se formar, porém minha mãe tinha feito somente até a 4ª série resolveu junto com o meu pai fazer o EJA juntos, foi quando conseguiu chegar até o 1º ano do ensino médio e meu pai conseguiu concluir o segundo grau. Até hoje meu pai não estudou mais, só curso técnico de vigilante e conseguiu se formar, pois para fazer o curso técnico, teria que pelo menos concluir o segundo grau e foi por isso que ele fez o EJA.

Susane: Deixa eu entender, você estava terminando o ensino médio, sua irmã foi pra Santa Catarina. E como surgiu a ideia de você também poderia ter um caminho parecido, se formar, ir atrás dos estudos. Você lembrar como isso surgiu?

Bruno: Lembro, foi um momento muito marcante para mim, e é complicado eu falar da época do lava jato, pois foi ali eu vi que aquilo não era para mim. Foi um momento que eu tinha largado o futebol, que era o sonho da minha vida, o que eu fazia era jogar bola e deu errado, foi quando retornei para o lava jato, mas teve um dia que eu trabalhei tanto, que eu rosto ficou coberto de graxa, pois tinha entrado embaixo do carro, foi quando fui embora e fiquei pensando ‘’não quero mais passar por isso na minha vida’’, porque por mais que eu tinha ralado o dobro, porém ganhei o mesmo dinheiro.

         Naquele momento passou várias coisas na minha cabeça e pensei ‘’vou embora, ter que ir a pé, com rosto todo sujo de graxa, todo mundo vai me ver nessa situação’’ porque querendo ou não era adolescente e isso não era legal, ou seja, todo mundo iria me olhar desse jeito aqui, todos os dias estava ralado, com braços doendo, foi ali que eu falei que não era isso que queria para minha vida e aquilo foi um marco, pois estava no terceiro ano do ensino médio, foi quando eu pensei que deveria fazer alguma coisa, eu preciso estudar e foi quando eu descobri o que era ENEM, a dimensão dele e pensei ‘’eu preciso fazer essa prova, essa prova é difícil, o que devo fazer’’ foi desde aí que comecei a pensar nisso.

         Foi como falei, eu já tinha um exemplo e foi desde aí que me baseei nesse exemplo e falei ‘’ah, se minha irmã conseguiu, eu vou conseguir, a vida dela é pior que a minha, querendo ou não’’, então foi exatamente isso que eu pensei ‘’se minha irmã, com menos recursos que eu, ela conseguiu chegar lá, por que eu não posso conseguir?’’ e digo que foi importante tê-la, porque talvez eu não pensaria dessa forma e foi esse o marco.

Susane: E desde saber isso, até começar a estudar, foi como? Você perguntou para ela, como passar, como foi?

Bruno: Não, foi complicado, pois o processo que ela tinha feito, foi diferente e como ela estava distante, não tivemos um auxílio. Foi a partir daí que eu coloquei na minha cabeça que eu precisava estudar, só que já estava no final do terceiro ano, não sabia muito bem o que fazer, eu lembro que consegui descobrir que a redação do ENEM valia muito, foi quando comecei a pedir dos amigos para corrigir as redações minhas e dei até algumas para elas. Só que estudar mesmo, fazer um cursinho, estar 1 hora com o caderno, eu não cheguei a fazer.

         Eu fui fazer o ENEM do jeito que saí do ensino médio, treinei umas duas ou três redações e hoje eu vejo que não chegava nem perto do que é uma redação do modelo ENEM e fui fazer o ENEM na cara e na coragem, pois lembro que isso foi em 2016, foi quando tirei 540 de média e com essa pontuação não dava para passar em nada em Minas, então foi o momento que eu conversei com minha irmã e ela me deu a ideia de pegar essa nota e tentar colocar em alguma universidade aqui do sul, de perto da gente, para ver o que dava para conseguir algum curso.

         Foi quando coloquei no SISU e passei no Instituto Federal Catarinense – Campus Camboriú, que são 10 minutos aqui de casa, onde passei para o curso de matemática e ela falou para eu vir morar com ela, nessa época eu namorava e namoro até hoje, e ela resolveu ajudar minha namorada também, para ela vir, que aqui nós iríamos conseguir fazer uma faculdade e mudar de vida.

Susane: Você começou no Instituto Federal?

Bruno: Isso, comecei a estudar, foi quando arrumei um emprego de faxineiro no hospital.

Susane: Na faxina do hospital?

Bruno: Isso, porém quando comecei a estudar ali, eu pensei que teria que fazer um curso, eu não sei se você vai me entender, quando entrei ali, que eu comecei a fazer o curso de matemática, eu vi que não era o que eu imaginava, não era o curso que eu queria, não era uma coisa que eu me via fazendo e isso já tinha se passado 1 ano e chegou um momento que ir para lá já estava se tornando insustentável para mim, porque eu não aguentava mais, devido ao ambiente, onde ele não contribuiu muito.

         Como tinha vindo de Minas, o pessoal ficava fazendo muita piadinha com meu sotaque, outras situações, além do curso em si, então foram vários fatores que tive a certeza de que matemática não era para mim e que entrou o outro lado, o do hospital, foi quando tive a oportunidade de trabalhar de jovem aprendiz lá dentro do próprio hospital que eu tinha trabalhado como faxineiro.

Susane: Você tinha quantos anos?

Bruno: Eu tinha 18 anos, antes eu era menor aprendiz e lá eu tive a oportunidade de ser jovem aprendiz e que era um sistema diferente e foi quando conheci a área médica, de um modo geral e comecei a conversar com os médicos, comecei a mexer diretamente com hospital e atendimento, eu lidava diretamente com os exames e eu via os médicos fazendo os laudos, eu montava os exames para eles, via as palavras dos exames, via as imagens dos exames dos pacientes e eu achava os médicos o máximo, ou seja, passei a achar aquilo ali o máximo, a profissão em si.

         Hoje, ao ver tudo o que eu passei, eu nem penso em fazer radiologia, esses médicos que eu me inspirei, eles eram médicos radiologistas, fazendo exames de imagem, foi onde tirei minha inspiração e falei ‘’cara, eu quero fazer isso’’, e esse foi o segundo momento que eu tive coragem de largar tudo, trocar o certo pelo duvidoso, eu não me arrependo, até porque deu certo.

Susane: E o que você fez? Como foi?

Bruno: Eu cheguei para minha irmã, tinha fechado o ano, falei que não estava feliz fazendo matemática e que eu queria ser médico. A minha irmã entendeu e disse que eu tinha que fazer o que era certo e que ia me apoiar. No início eu tentei não largar o curso, eu tentei conciliar, foi a época que eu descobri o descomplica, ou seja, eu tentei conciliar tudo. Só que essa tentativa durou 1 mês, eu vi que ficava insustentável, foi quando tomei a decisão e fui na secretaria da instituição e disse que queria trancar, a partir do momento que e mulher trancou minha vaga, eu sabia que não voltaria mais, independente de qualquer coisa, tranquei e comecei a trabalhar e estudar, onde desafoguei um pouco e comecei a estudar pelo descomplica.

         Isso aí foi meu primeiro ano todo, foi bem difícil, e descobri que eu não sabia nada, eu não sabia somar direito, essa é a verdade, é complicado falar isso, pois faz pouco tempo, só que infelizmente, eu não sabia nada. Para você ter ideia, eu tinha feito 1 ano de matemática, mas eu não sabia os conteúdos de ensino médio, eu não sabia análise combinatória, eu não sabia determinadas regras de divisão, multiplicação. Eu até entendo o meu não rendimento, pois eles têm um processo inverso, o conteúdo que eu aprendi lá, ele era tão avançado, o pré-requisito que eu precisava para aprender aqueles conteúdos, eu já aprendia dentro da faculdade, ou seja, eu não precisava dos meus conteúdos do ensino médio.

         Para mim, me dar bem na faculdade, é melhor que conseguir os conteúdos da faculdade e eu só fui descobrir isso, quando eu voltei a fazer pré-vestibular, eu achei que não sabia toda a matéria do pré-vestibular de matemática só é mentira, eu tive que aprender do zero, regra de divisão, regra de multiplicação, eu até sabia, mas não da forma que deveria ser certinho.

         Biologia foi quando descobri que gostava de outras matérias, porque antes eu tinha muito preconceito, até mesmo com biologia, eu queria fazer medicina, mas não sabia se eu gostava de biologia, pois meu ensino médio inteiro eu odiava biologia e foi quando eu entrei de coração em todas as matérias, e descobri que gostava de história, geografia, desde então, descobri também que gostava de biologia e pude entender a matéria de fato.

         Esse primeiro ano, foi meio que o ano do descobrimento e muita gente me pergunta ‘’Bruno, dá para passar em 1 ano?’’ eu respondo que sim, sem saber nada, porque a experiência que eu tive no segundo ano eu consegui refletir e ver que se eu tivesse feito uma última coisa certa, talvez eu tivesse passado logo no meu primeiro ano e seria tão impactante para todo mundo.

Susane: Qual foi a última coisinha?

Bruno: Era que eu não tinha uma estratégia de prova, eu fiz a prova do jeito que veio na minha cabeça, por mais que eu estivesse estudado o ano todo, eu não tinha entendido que teria que ter uma estratégia para fazer a prova, eu tinha feito de tudo, tinha revisado os flashcards, tinha feitos exercícios, só que chegou na hora, eu sabia o conteúdo, só que simplesmente eu fiquei muito nervoso, pois era a primeira vez que me via com condições de fazer a prova adequadamente e além do nervosismo, ainda teve esse quesito, tudo o que eu decidi, eu decidi lá na hora.

         E pensei ‘’eu vou fazer primeiro a prova de linguagem e as outras eu não sabia muito bem, exatamente, ‘’cronometradinho’’ o que eu vou fazer certinho na hora da prova’’ e hoje em dia, até mesmo pela minha experiência do segundo ano, que aconteceu praticamente a mesma situação e eu consegui reverter graças a minha estratégia e eu vi que se tivesse me atentado, talvez eu tivesse passado com 1 ano, então quando as pessoas me perguntam, eu sempre gosto de falar que sim, mas é aquilo, como falei em todo podcast, o contexto sempre é válido.

Susane: Eu quero muito falar da estratégia que você montou no segundo ano, mas antes de ir para o segundo ano, você começou a estudar lá e viu que não tinha base. Como foi isso, você se desmotivou  com isso, ficou para baixo ou você quis aprender isso, custe o que custar?

Bruno: Eu acredito que quando você tem uma motivação maior, seus empecilhos acabam tornando oportunidades, eu ficava triste por não saber a matéria, sim, mas eu nunca deixava de fazer uma lista que eu não sabia, eu sempre fui muito metódico nas coisas, eu sempre gostava de anotar meus resultados e eu via que eu estava progredindo, então cada dia que eu via que de 10, eu acertava 4, mas antes de eu ver a aula, eu não ia acertar nem 4, para mim, eu não via aquilo como ‘’eu estou muito atrás, mas sim como evolução’’ e aquilo me motivava para ir para próxima matéria, fazer a próxima lista.

         Isso é tão importante para quem quer começar do 0, não ter base, a primeira coisa que se deve fazer antes de pegar o livro e ler toda a teoria, você deve abrir seu coração para o aprendizado, eu abri tanto o meu coração para poder aprender aquilo que em momento algum passou pela minha cabeça que eu ia sentar e a primeira lista que eu pegasse, eu ia acertar tudo, é óbvio que eu não ia acertar tudo, porque eu não sabia nada e é exatamente isso, esse para mim foi o ponto que me possibilitou de ter uma evolução tão grande, ou seja, esse foi um dos pontos primordiais.

         Eu, sinceramente, não sei, tive momentos de tristeza, mas não lembro um momento que eu deixei de fazer alguma coisa, porque eu não sabia ou que eu estudei mais matemática, porque eu me dava melhor em matemática, do que história que eu achava horrível, porque eu sabia que se achasse história horrível naquele momento, era porque eu não estava entendo a história como ela deveria ser entendida, então eu olhava para aquela aula com outros olhos, na hora que eu conseguia entender, isso me motivava para ir para o próximo assunto.

         Realmente eu não consigo te dizer, olhando para o meu primeiro ano, o momento que eu olhei e disse ‘’meu Deus, eu estou desesperado, não sei nada, o que vou fazer?’’ eu sei que parece ser utópico, mas creio que minha motivação para passar em medicina era tão grande, parece que queria provar alguma coisa, para mim mesmo, não para alguém, pois isso não me atingia. Eu ficava feliz quando acertava 10 questões, mas quando acertava 4, eu reclamava, pois sou ser humano e todo mundo erra e apenas passava para o próximo e a próxima questão vai ser melhor.

Susane: Bruno, você trabalhava no hospital ainda e estudava no curso online, em casa?

Bruno: Isso, exatamente. Foi quando entrou no meu segundo ano, eu passei meu primeiro ano estudando e trabalhando, só que eu tinha um contrato de 1 ano e 4 meses, segui todo o meu contrato durante o primeiro ano  e comecei o meu segundo ano trabalhando e estudando, quando acabou meu contrato, foi onde eu sentei e conversei com minha irmã e perguntei para ela se existia a possibilidade de eu ficar até a prova do ENEM sem trabalhar e que se eu ficasse esse período, sem trabalhar, eu tinha certeza que ia passar naquele ano, que foi a prova que eu fiz agora em 2019, ela olhou para mim e disse que comida não iria faltar, como sempre.

         Eu sempre gosto de deixar isso bem claro para a galera, estudar e trabalhar não tem que ser algo que você escolhe, se você pode só estudar, só estude, vai ser bem melhor para o seu psicológico, para o seu desenvolvimento, até dentro dos estudos. Agora para você que precisa estudar e trabalhar são possíveis, mas nem todos os dias serão iguais, terão dias que estará cansado, vai estar desmotivado, agora se você estiver escolha, não opte por estudar e trabalhar, eu não levanto essa bandeira, invista no seu conhecimento.

Susane: Em que mês pôde só estudar?

Bruno: Então, até abril eu trabalhei e a partir deste mês, eu estudei até o ENEM.

Susane: Você saiu do hospital, então, você teria o dia inteiro para estudar, e como foi à rotina de estudos depois?

Bruno: Aí que entra o que eu sempre digo para a galera, eu tinha uma rotina tão bem organizada em si, que eu não mudei minha rotina de estudo e trabalho, o que eu posso dizer que acrescentei na minha rotina, foi um maior tempo de descanso, eu não descansava, não adequadamente, não como deveria, então quando eu tive o dia inteiro para estudar, que eu pude descansar direito para ter aquele mesmo tempo de estudo de quando eu estudava e trabalhava, eu estava muito melhor então rendia duas vezes mais, eu pude descansar meu corpo e minha mente e com o tempo que sobrou para além desse descanso, eu fazia muitas revisões, eu que já tinha isso no meu cronograma, só que meu cronograma e revisões eram feitas em deslocamento, eu pegava meu flashcards, ia com eles para dentro do ônibus, enquanto eu estava andando na rua, no caminho do ponto, esse era o meu momento de revisar as matérias que eu via durante o dia.

         Então quando eu tinha o dia inteiro livre, eu não precisava mais fazer isso, onde eu passei revisar melhor, com mais calma e com mais tempo e acrescentei um novo método de revisão, para, além disso, a minha irmã ganhou um painel, que eles estavam descartando lá do hospital, um painel que o pessoal deixa recado e ela me deu esse painel, porque antes eu colava post-it na parede e a parede estava começando a descascar e a resolução dela foi trazer esse painel.

         Foi quando eu tive a ideia de fazer resumos em post-it, que eu já fazia flashcards, então para mim era uma facilidade, o que eu fazia, via um conteúdo, eu pegava o que me fazia lembrar naquele conteúdo de alguma forma, seja ele desenho, uma frase, uma parte da matéria mesmo e escolhi 4 áreas que eu tinha tido maior dificuldade no ano anterior, que foram química, matemática, física e biologia, que eu coloquei no painel e a cada aula eu colocava um post-it de cada aula e eu tinha um tempo, 1 vez por semana para revisar todo aquele quadro, ou seja, eu fazia essa revisão como se fosse meus flashcards.

         Eu não simplesmente lia o conteúdo, o post-it tinha uma frase e a partir daquela frase, daquele conteúdo que estava ali, eu tentava desenvolver todo o restante daquela matéria, eu seguia mais ou menos esse espaço, exemplo, tinha uma frase, eu já fazia fazer essa associação, identificando qual assunto seria e meio que tentava acessar meu cérebro, o que aquela frase me despertava sobre a matéria e assim, eu revisava uma vez por semana nesse quadro e minhas outras revisões eram normais, onde as mantive e fiz esse quadro.

         Tinha que ser uma vez por semana, porque tinham tantos post-its, que eu demorava 1 hora, 1 hora e meia para revisar todas as 4 matérias do quadro, como era um tempo curto, não teria como fazer isso todos os dias, foi isso que acrescentei a mais e ainda acrescentei o tempo para raciocinar e ainda praticava provas anteriores.

Susane: Sobre seu método, eu achei muito legal, primeiro que você não fazia um resumo grande, era algo que te dava dica para relembrar, uma frase ou um desenho, quando você falou resumo, eu fiquei meio assim, mas era algo para relembrar o mais relevante ou o mais que te fazia lembrar e a segunda coisa é que essa questão de recuperar da memória é o que mais vai garantir você lembrar no longo prazo, é o que vai dar mais fixação no longo prazo. Você acertou muito ao ver as dicas no post-it e se explicar depois, além dos flashcards também.

Bruno: Exatamente, o público do ENEM, por exemplo, o pessoal faz pouco uso de um método de revisão que é tão rápido e tão efetivo ao mesmo tempo, que são os flashcards, porque teve um momento que eu pensei que usar flashcards, seria decorar as coisas e a ideia do post-it, foi baseado nos flashcards que fazia, foi por isso que tive essa ideia. Eu penso assim, se você usa o flashcards de maneira errônea, você vai sim acabar decorando o conteúdo dele e as pessoas devem entender que a ideia do flashcards, quando você coloca uma pergunta que é direcionada na parte da frente, o objetivo não é que você leia a resposta, não é que você repita o que está na resposta atrás dos flashcards.

         Como são perguntas direcionadas, tanto para a pergunta, quanto para a resposta, só que não necessariamente você tem que dar a resposta que está ali atrás, ou seja, aquela resposta é só para você ter um direcionamento para saber o que você verbalizou antes de virar o flashcards está correto, é mais para ter essa visão e não ficar ali, vendo 5 vezes por semana o mesmo flashcards e decorando as palavras, aquilo não vai adiantar de nada, eu estou falando isso, porque muitas pessoas vieram me perguntar de como usava os flashcards, pois tinha mais ou menos uns 3.000 flashcards de todas as matérias. As pessoas tem uma visão um pouco deturpada, pois as pessoas não usam o método de maneira adequada e eu posso dizer que ele é muito efetivo, porque as minhas revisões foram feitas por isso.

Susane: E você usava para quais matérias?

Bruno: Eu usava para todas, tenho flashcards de todas as matérias do ensino, quando você vai analisar uma relação tempo e efetividade para mim, eu não encontrei método melhor, principalmente no meu primeiro ano, era inviável eu andar com uma pasta ou com um maço de resumos. Eu colocava no bolso da calça do trabalho, quando eu chegava no ponto de ônibus, por exemplo, eu usava flashcards, quando entrava no ônibus para chegar até no trabalho, usava os flashcards e nisso eu ia acumulando tempo de revisão.

Susane: Você fazia em papel então?

Bruno: Isso, eu tinha uma caderno velho que eu cortava ele em vários quadradinhos, o suficiente para caber no bolso e de lá fazia os flashcards, onde eu mesmo os criava, eu mesmo fazia as perguntas direcionadas, porque o objetivo do flashcards para mim não era saber algo em específico, mas saber coisas fundamentais da matéria, então, eu tentava escrever as perguntas nos flashcards mais direcionadas possíveis, é como se você tirasse 3 perguntas do texto, onde as respostas estão no mesmo texto, era mais ou menos assim que eu criava meus flashcards, ou seja, o meu texto era meio que meu resumo.

Susane: Você está perto dos seus flashcards?

Bruno: Estou, estão bem na minha frente.

Susane: Dê uns exemplos aí para gente.

Bruno: Vamos lá.

Susane: Bruno, se você estiver foto, seria legal colocar no post.

Bruno: Por exemplo, esse flashcards está falando de revoltas nativistas no Brasil. A pergunta mais direcionada que eu pensava é ‘’o que são revoltas nativistas e emancipacionistas?’’ em qualquer resumo que você nessa matéria, haverá isso, é uma parte da matéria que você precisa saber, para desenvolver qualquer linha de raciocínio e atrás eu colocava as respostas. Não era uma questão de ler a pergunta e já olhasse a resposta, era acessar o conteúdo na sua mente e a partir que uma pessoa pergunta o que é uma revolta nativista e emancipacionista e vou pensar e saber que estava nos flashcards, então de alguma forma eu tenho que acessar esse conteúdo, sendo que eu tentava fazer linha de raciocínio e responder da melhor forma possível.

         Sendo sincero comigo mesmo, eu nunca falava o que estava no flashcards, mas sabia que o direcionamento do meu raciocínio em congruência com o pensamento em si, por mais que não estivesse como estaria na resposta, mas você sabia que aquilo estava certo.

Susane: Você tem mais alguns exemplos de exatas?

Bruno: Na frente do flashcards, eu colocava ‘’em pirâmide, cite’’ 1- área total, 2- volume, e a partir daí eu tentava lembrar, a fórmula da área total e do volume. Outro exemplo, ‘’em relação às pirâmides qual o segmento que sempre divide uma de suas faces laterais em duas partes iguais?’’ e eu tentava associar aquilo a alguma coisa, outros que eu fazia, onde eu colocava a fórmula na frente, principalmente as de física, exemplo, ‘’verificada a isomeria geométrica, como saber se ela é cinza ou se é branca?’’ e assim eu ia montando cada flashcards para cada segmento da matéria e ia acabando que eu revisava a matéria de uma forma mais rápida.

Susane: Você fazia os flashcards antes ou depois dos exercícios?

Bruno: Eu gostava de fazê-los depois que eu fazia os exercícios, justamente para ver se tivesse alguma coisa no exercício de relevante, e depois eu colocava nos flashcards também. Imagina que o exercício de matemática e de geometria espacial ele tem um macete na hora de resolver, que dá um adianto, não somente para aquele exercício, eu não sei se estou conseguindo explicar, ou seja, alguma visão que poderia ter naquele exercício que é importante para a matéria como um todo, onde eu colocava aquele exercício, não ele completo, mas colocava como pergunta, para tentar ter aquela visão que aquele exercício necessitava.

Susane: Mas você não pegava exercício inteiro ou somente um detalhe?

Bruno: Isso, só o detalhe, o que eu visava com os flashcards não era fazer um exercício propriamente dito no modelo ENEM, era aprender tanto com a pergunta, quanto com a resposta, quando eu bato o olho numa pergunta que é muito direcionada ao texto, se eu conseguir acessar aquela parte do texto com aquela pergunta, aprendi também, da mesma forma que aprender com a resposta, no sentido de que a resposta, ela condiz com o que está no resumo, na matéria, se eu não conseguir acessar aquela resposta por meio da pergunta, eu leio minha resposta e refresca aquilo na minha mente, mas algo que eu já sei na revisão, era mais questão de matéria em si.

         Eu particularmente penso que, as pessoas que gostam de revisar por exercícios, elas têm um erro justamente nesse quesito, na minha humilde concepção, porque se for pra você treinar rapidez, resolução de raciocínio, você faz um simulado, agora se você quer revisar uma matéria, eu penso que você deve pegar um questão do ENEM, supondo que queres revisar genética, o que me garante que nesta questão, específica de genética, vai me produzir acesso a todas as partes amplas da genética que são necessárias.

         Pode ser que aquela questão vá despertar uma parte do seu cérebro, que é a parte que ela quer que seja despertada, pode estar falando de mutações cromossimiais, pode ser que ela acesse esta parte, em específico, mas ela não vai acessar a matéria como um todo, então a pessoa quer revisar por questões, é um bom método, mas toda questão que você fizer, o melhor que você desenvolva aquela questão e que acha que você revisou aquela matéria com aquela única questão, você vai ter que voltar no resumo, porque irão ter lacunas nesse desenvolvimento de questão, a não ser que a pessoa use modelo de questões dos flashcards, são questões que são montadas, totalmente pareadas com a matéria, o que é muito difícil encontrar nos vestibulares, você encontrará questões assim, na UNICAMP, no ITA, que o cara quer saber se você sabe a matéria. Pois a questão será conivente com determinada matéria, agora um vestibular igual ao ENEM, que ele está avaliando competência, o contexto geral, eu não acho muito efetivo.

Susane: Bom, é um ponto de vista em relação ao ENEM, eu acho que na FUVEST, na UNICAMP, você fazer muitas questões, muitas provas, você vai fazer várias questões de genética e na prática você vai revisar bem, mas para o ENEM, eu acho que é legal pensar no método de flashcards e também, não podemos escolher um método só, eu acho que os dois são ótimos, tanto fazer questões, provas, quanto adicionar com flashcards ou o método de recuperação.

Bruno: O estudo mesmo, ele é subjetivo, eu não posso dizer que alguma coisa está certa ou errada, mas com a experiência que eu tive, eu posso dizer que algumas coisas, elas são mais e menos efetivas dependendo do contexto, que é a mesma coisa, é direcionar, e falar o que está certo ou errado, mas mostrar que isso tem diversas opções e talvez algumas escolhas podem minar a aprovação da pessoa.

Susane: Eu vejo que usar flashcards é o método que recomendo bastante, mas eu mesma não usei, então eu não posso falar que é o único caminho para passar. Mas o único que eu falo que é necessário, é você fazer a prova, fazer questões e assim a gente entra na estratégia de prova. Me conte como foi para você fazer as provas?

Bruno: Eu vou ser sincero com você, eu passei em medicina, sem conseguir terminar a prova do ENEM, mas nos meus treinos, eu consegui o que são extremamente importantes, igual você falou. Eu me inscrevi no ENEM esse ano, porque eu ainda penso em ir lá e conseguir terminar a prova.

         E eu só conseguir tirar a nota necessária para passar em medicina, justamente por causa da minha estratégia de prova, o que eu fiz na minha estratégia de prova, a primeira coisa foi encontrar na internet algum lugar que me falavam sobre T.R.I, porque eu queria entender melhor como funcionava para mentariar isso com a minha universidade, pois no meu caso, que precisava de uma nota alta, não adiantava nada eu fazer uma excelente prova de linguagens, se linguagens valia pouco na minha universidade, este foi o primeiro insite que não tinha tido no primeiro ano, este foi o primeiro passo, pesquisei e vi que a entrada da UFSC era desta seguinte forma, no qual tinha 1,5 para redação, enquanto as outras era peso 1, ou seja, redação era minha prioridade na hora de fazer a prova do ENEM.

         Depois fui olhar sobre T.R.I e eu vi que nos últimos 10 anos de notas máximas e notas mínimas sempre seguindo a ordem de notas maiores, primeiro vinha matemática sempre com nota estrondante em relação ao número de questões, ou seja, não precisava acertar tantas questões de matemática para você chegar a 800, pois T.R.I era sempre alta, depois vinha ciências da natureza que era a mesma ideia, não precisava acertar muitas questões para ter uma nota acima de 700 pontos, depois vinha humanas, depois linguagens, que era sempre o último.

         A partir daí, eu criei na minha mente e já pré-estabelecia essa ordem, o restante da minha estratégia foi o treino, eu fui definindo durante os treinos e fui estabelecendo essa ordem, linguagens, humanas e redação, e defini redação, humanas e linguagens e no segundo dia matemática e natureza, nos treinos eu percebi que algumas peculiaridades a respeito disso, eu descobri que, isso tudo eu ia anotando e por isso fui casando uma coisa com a outra, e vi que era muito lento em fazer uma redação, eu não conseguia fazer uma redação em menos de 1 hora e 40 min e já tinha tentando de todas as formas.

         Para eu tirar mais de 900 na redação, eu precisava deste tempo, só que eu descobri também que eu conseguia fazer a prova de humanas em 1 hora ou menos e com número de acertos sempre alto, eu percebi que linguagens era a mesma coisa, eu não era tão rápido quanto humanas, mas eu conseguia fazer uma boa prova em tempo bom. No segundo dia, eu percebi que não conseguia identificar o que era uma questão fácil, média e difícil dentro da prova e isso me dificultava muito a pular uma questão, o que me comia muito tempo, e o que influenciou nessa estratégia de prova?    

Eu fazia a prova de matemática contando com a prova de natureza, a minha estratégia era mais ou menos assim, se eu conseguisse acertar 40 questões de matemática demorando determinada quantidade de tempo e se eu acertasse 20 questões de natureza, com o restante de tempo que sobrasse, a nota iria ficar compatível com a nota de T.R.I e se eu conseguisse acertar de certeza 30 questões de matemática, eu já tinha na minha estratégia eu teria que acertar no mínimo 25 a 30 questões de natureza e assim eu ia balanceado entre uma prova e outra.

Susane: Em relação à dificuldade que você sentia, então, se a prova de matemática estivesse mais fácil, você focava mais nela para acertar mais.

Bruno: Isso, perfeito. E por que isso é importante? Quando eu chegava para fazer um simulado, eu comecei a perceber que a prova do ENEM ela tinha um padrão. E qual era esse padrão? Quando a prova de matemática estava muito casca grossa, muita conta, muita coisa, geralmente a prova de natureza ela vinha mais teórica, ou seja, eu precisava de menos tempo para fazê-la, porque eu não precisaria fazer muita conta e eu cheguei nessa conclusão, pois contei questão por questão em todos os simulados, quando eu senti uma dificuldade extrema de fazer a prova de matemática e vinha de 30 a 35 questões só de teoria na prova de natureza ou fazer uma conta rápida e eu considerava teoria também ou vinha somente teoria, como múltipla escolha e quando a prova de matemática estava fácil, onde não tinha nada de tão estrondante, a prova de natureza vinha com maior número de conta, ou seja, tinha que demorar menos em matemática, porque natureza ia demandar mais e eu aprendi a identificar isso lá na hora, essa identificação fazia parte da minha estratégia.

Susane: E assim, você montou essa estratégia montando muitos anos de prova do ENEM?

Bruno: Essa estratégia foi montada vendo todas as provas do ENEM que já existiram e os que não existiram, porque até provas que foram anuladas de 2009, que foi vazadas, mas transita na internet. Fiz todos os PPL’s, fiz todos os ENEM’s de aplicações regulares, eu fazia esses ENEM’s igual ao ENEM mesmo, no qual fazia em uma semana e na outra semana fazia a prova do segundo dia, então toda semana eu estava fazendo simulado e tinha um tempo que fazia esse alto diagnóstico ‘’como foi a prova O que eu senti?’’ e por isso eu comecei a perceber que tinha sim esse determinado padrão para a prova de matemática e a prova de natureza, até mesmo porque, eu cheguei nessa conclusão que isso era verídico e que no ENEM de 2009 aconteceu de novo.

         Porque pensando racionalmente, a forma que eu pensei, não sabe se está certo, mas é quase impossível terminar a prova do ENEM, no segundo dia, se eles pegarem e colocarem 45 questões de matemática muitos difíceis, fazendo contas demais e chegarem na prova de natureza e colocarem mais 30 questões, tirando biologia, mas as 30 que exigem muito cálculo, você não vai conseguir terminar, porque na hora que você for fazer 3 minutos por questões, não vai fechar, pois uma questão que tem o cálculo mais complexo, você tira mais de 3 minutos, só que o que compensa aqueles 3 minutos, é justamente a questão teórica em que leva menos de 3 minutos e isso vai balanceando o tempo  e acaba que dá certo.

Susane: E aí você foi fazendo isso, foi vendo essa constatação da prova, foi montando sua estratégia ao longo do ano, em vários meses, como foi?

Bruno: Isso foi ao longo de vários meses, depois que eu tive essa constatação, eu percebi que dentro da prova de natureza, as questões de biologia elas valiam o dobro das questões de química e física, porque eu estudando a T.R.I em si, todos os meses que eu estava montando, eu sempre me baseava no T.R.I, porque eu queria entender o comportamento dela para eu jogar o jogo dela, então eu descobri pela T.R.I que não adiantava nada eu acertar 10 questões de física, as 15 de química e acertar 3 de biologia, porque biologia é a área de natureza que as pessoas mais acertam no ENEM.

         E o T.R.I leva muito em consideração da prova de biologia, porque como as pessoas acertam, elas ficam com questões mais fáceis e eu descobri essa ordem, que primeiro biologia, química e física (as que não valem quase nada), justamente porque poucas pessoas acertam as questões de física, sendo que você não precisa fechar a prova de física para você ir bem em natureza, quando eu digo de ENEM.

Susane: Você lembra como foi seu desempenho? Mas continua sua linha de raciocínio de depois você me conta.

Bruno: Eu descobri isso e comecei a encaixar isso na minha estratégia, o meu foco era o seguinte, eu sempre fui péssimo em física, eu tentava fazer todos os exercícios, via toda a teoria, só que as questões de física do ENEM, elas não me desciam, sempre foram muito complicadas, química eu já era um pouco melhor e biologia eu dominava, então eu tinha a seguinte estratégia, independente da situação da prova de natureza, eu preciso acertar todas de biologia e se eu acertar todas de biologia, eu terei um T.R.I bom.      

         E se incorporou a minha estratégia do segundo dia, e fui para a prova com esse pensamento e no primeiro dia, teve uma pequena alteração que foi a seguinte, eu percebi que quando eu chegava para fazer o simulado do primeiro dia eu geralmente estava nervoso, ansioso e de alguma forma, a prova de humanas me acalmava, porque depois que comecei a estudar história, geografia, eu me dou muito bem em humanas hoje em dia e definiu-se que, como a prova de humanas me acalmava, eu começaria fazendo humanas, pois fazia em média de 1 hora e foi quando troquei humanas por redação, mesmo redação sendo mais importante para mim e depois fazia linguagens e depois fechei o primeiro dia.

         O segundo dia, eu ia direto para matemática, depois sentia como estava o contexto da prova, se estava mais pesado e dali eu presumia como seria a prova de natureza, dentro da prova de natureza, eu fazia primeiro biologia, depois química e se sobrasse tempo, eu fazia as de física, a não ser que fosse uma questão teórica que foi rápida de resolver, que eu ia lá e marcava rapidinho e foi assim que defini minha estratégia e foi essa estratégia que salvou o meu ENEM de uma modo geral para passar em medicina.

Susane: Muito legal, Bruno, essa estratégia, tudo de bom. E, como foi no dia? Você foi tranquilo para a prova? Como foi quando a prova estava se aproximando? Você foi ficando tranquilo?

Bruno: À medida que a prova se aproximava, eu ficava mais nervoso, por mais simulados que você faça, ou melhor, que você simule, o dia em si é muito diferente e muito bom simular para você ganhar autoconfiança, isso é muito importante, só que o nervosismo faz parte da gente, não tem como evitá-lo, e foi batendo aquele nervosismo, onde falei no podcast lá atrás do meu primeiro ano e que eu tinha que resolver isso de qualquer jeito. O que eu fiz para resolver isso? Vou procurar métodos para ficar mais calmo e encontrei no YouTube um canal chamado ‘’meditação guiada’’ e aquilo me deixava calmo de um jeito e que fazia sentido para mim e comecei sempre escutar essa meditação guiada, o mesmo áudio e a minha estratégia foi chegar mais cedo no ENEM, vou entrar na sala 1 hora mais cedo, assim que liberarem para entrar na sala, vou fechar meus olhos e escutar 1 hora de meditação guiada e foi onde fiquei totalmente calmo para fazer a prova, para falar a verdade, eu até assustei quando a mulher estava entregando a prova, pois estava tão concentrando no que eu estava fazendo, que perdi o tempo.

Susane: Meditação é tudo de bom, né?

Bruno: Eu tenho até que voltar a fazer, pois depois do ENEM eu parei de fazer, porque não passei por nenhuma situação em que eu precisava ficar muito calmo.

Susane: E você foi fazer a prova, e foi tudo como você esperava nas duas?

Bruno: Não, por isso que a minha estratégia de prova me salvou e se eu tivesse todo o pensamento que eu tive no meu primeiro ano, com relação ao amadurecimento, T.R.I, talvez eu teria passado. O que aconteceu? Eu estava calmo, abri a prova de humanas, deu certo e fiz em 1 hora, na hora que fui olhar o tema da redação, travei, eu estava pensando em fazer a redação em 1 hora e 40 minutos, era um tempo ruim, mas era o tempo que estava acostumado a fazer, e aquele tema soou muito difícil para mim, onde todo mundo falou que era um tema fácil, mas para mim foi um bicho de sete cabeça tão grande, que eu demorei 2 horas e 30 minutos para fazer aquela redação e faltou pouco tempo para fazer a prova de linguagem, só que o que me tranquilizou desse pensamento na hora foi, a T.R.I está ao meu favor, eu fiz a prova de humanas, quando saí da prova de humanas, eu tive a sensação que ia acertar tudo, mas acertei 39.

         Após a prova de redação onde passei 2h30min, não deu tempo de fazer a prova de linguagens e falei a T.R.I está ao meu favor, vou fazer o que der e o que não der, infelizmente vou deixar o tempo acabar e vou ter que chutar e foi o que aconteceu, das 45 questões de linguagens, eu consegui olhar umas 30, só para você ter ideia e dessas 30 que eu olhei, eu acertei só 21 e o resto eu tive que chutar, só que eu falei ‘’beleza, a T.R.I está ao meu favor’’.

Susane: E as que você chutou, você acertou alguma coisa?

Bruno: Não, por incrível que pareça, eu fiquei me perguntando, qual a técnica de chute que o pessoal usa até hoje, porque até isso eu estudei, por Deus, eu fiz todas as técnicas de chute que eu encontrei na internet ‘’ah, prestar no que você marcou antes, excluir algo que está para cima, para baixo’’, ou seja, deu total errado para mim, eu não acertei nenhuma questão de linguagem no chute. E assim, cheguei em casa, eu tinha acertado 39 questões de humanas e falei ‘’nossa, a T.R.I está ao meu favor e me salvou’’ e ainda pensei, ainda estou no jogo, porque uma coisa que tem que ser levada em consideração, é que eu sou cotista, tanto de escola pública, quanto preto, pardo e indígena, como estou residindo com minha irmã, eu não encaixo na cota de renda e a realidade é que, não estava fazendo para ampla concorrência desde o início, então eu ainda achava que poderia chegar ali.

         Depois fui para o segundo dia e eu fiquei em dúvida na minha redação, só que quando cheguei em casa, que eu li minha redação para minha irmã, falei com a minha namorada, onde cheguei a ler para ela também, todo mundo meio que me confortou dizendo que está no mesmo nível que você fazia aqui e mostrava para gente, porque eu realmente saí daquela prova pensando ‘’estraguei minha redação, fui ruim demais’’ então falei ‘’calma, que ainda tem o segundo dia e estou no jogo’’. Cheguei para fazer a prova de matemática, fiz a mesma coisa, meditei, peguei a prova de matemática e vi que estava difícil, dali eu pensei que poderia demorar mais na prova de matemática, pois na prova de natureza estava algo mais teórico e foi quando deu tudo certo.

         Outra coisa que contribuiu também, as questões que não eram teóricas, elas estavam super difíceis, o que contribuía para a T.R.I, porque se eu que tinha estudado, eu estava sentindo dificuldade, então pode ter certeza que os outros teriam dificuldade nessas questões e nisso tinha ficado tranquilo, saí da prova de matemática com a sensação de não dever cumprido totalmente, mas pelo menos 25 questões, eu tenho certeza, eu tinha feito outras, tinha chegado no cálculo e marcado, só que as 25 questões eram incontestável e eu tinha certeza de que estava certas e outras questões tive que chutar, mas estava favorável a situação para mim.

         Fui para a prova de natureza faltando 1 hora e foi quando se confirmou a minha estratégia de prova novamente. Qual o primeiro pensamento que veio na cabeça? Preciso acertar todas as questões de biologia nessa 1 hora, no mínimo, dito e feito, das 15 questões, eu acertei 14 e eu sabia que aquilo ia aumentar minha T.R.I, depois fui para química, onde acertei 8 e 3 questões de física, que eram questões teóricas, não foram questões de conta, até porque não iria dar tempo, pois só tinha apenas 1 hora, então só fiz as teóricas. Não foi o melhor dos resultados, mas é aquilo que eu digo, a estratégia de prova realmente faz muita diferença e é muito importante, ao todo, foram 119 questões, mas tiveram pessoas que acertaram 120, 130 questões, que não passaram, e eu passei.

         Por que eu passei? Por que minha estratégia de prova, foi total conivente com a prova que eu estava fazendo, eu joguei conforme o jogo e deu certo, uma coisa que eu percebi em todas essas pessoas que acertaram muito mais do que eu e tiveram uma nota menor, foi o seguinte, a nota de linguagens foi igual ou maior que a de humanas, sendo que o T.R.I de humanas é maior, acertaram mais questões de natureza, do que em matemática, sendo que a prova de matemática dá mais ponto do que a prova de natureza e quando ia perguntar o número de acertos por área ali dentro de natureza, a pessoa acertava mediana em biologia, às vezes acertava bastante em química, bastante em física, sendo que biologia valia mais. Eu expliquei todo esse contexto para falar que não foi por acaso que meu T.R.I veio bom nesse sentido, eu sabia que meu T.R.I vinha bom justamente o que o T.R.I pedia.

Susane: Sabendo da importância de biologia, você fez só as provas do ENEM, fizestes outras questões ou outras provas de biologia?

Bruno: Foram somente as provas do ENEM, só que com questões, como eu fazia o descomplica, eles sempre disponibilizavam uma lista de 10 a 15 questões em todas as aulas, onde tinham questões da UFRJ e de outros vestibulares.

Susane: Então, os ENEM’s, os flashcards e os post-its?

Bruno: Exatamente, porque biologia estava dentro dos resumos em post-its.

Susane: Muito bacana essa estratégia, eu acho que é muito útil para todo mundo que faz o ENEM pensar dessa forma.

Bruno: O interessante disso é que, eu não esperava, mas já esperando, é que a minha estratégia deu tão certo, que me favoreceu mais do que eu pensava, quando eu fui olhar minha T.R.I em si, eu tinha ficado em humanas com 733,8 e achei justo, quando chegou em natureza, foi quando eu dei o sorriso enorme, foi quando tirei quase 660 pontos, com muito pouca questões, e eu dou total crédito para essa T.R.I, para as questões de biologia, porque eu praticamente fechei a prova de biologia, que é a considerada mais fácil, em matemática já era esperando eu passar dos 800, justamente porque eu sabia que a T.R.I era alta.

         São poucos os casos em que você acerta 30 questões e não passa de 800, quando eu vi que tinha acertado 35, eu achei maravilhoso e a redação me surpreendeu um pouco, porque tirei 960, mas não me surpreendeu tanto, porque já tinha corrigido antes e o pessoal tinha chegado a me dar 940, então aumentou 20 pontos com relação à nota que tinham me dado.

Susane: Deu tudo certo então. E como foi quando descobriu que passou. Você lembra?

Bruno: É uma sensação que eu nunca vou esquecer na minha vida, foi uma sensação de vontade de chorar, com felicidade, sendo que eu não achava que iria passar, pelas notas que eu tirei, eu comecei a crer que ia passar, foi quando passou as primeiras notas de corte do SISU, que eu tinha ficado em 1º lugar na minha cota e quando saiu o resultado final, foi só choro, gritaria, foi uma sensação única, foi uma sensação de ter conquistado algo que investiu algum tempo, foi uma sensação diferente quando entrei na matemática e é por isso que a medicina é o meu caminho e já foi confirmado isso.

Susane: E as aulas, já começaram? Como foi o começo?

Bruno: Lá na UFSC, eles separaram as pessoas em primeiro semestre e segundo semestre, é como se fosse a mesma turma, só que são 60 pessoas, 30 para o SISU e 30 para o vestibular, onde o pessoal do vestibular pode escolher, só que o pessoal do ENEM pelo que eu entendi, é por nota geral, ou seja, os 15 primeiros da classificação geral (quase todos da ampla concorrência) ficam no primeiro semestre e o pessoal das cotas que vai diminuindo um pouco o corte, eles ficam para o segundo semestre, então fiquei para o segundo semestre e o início das aulas começam dia 04 de agosto, se tudo der certo com essa questão do corona vírus, porque o pessoal está pensando em adiar para 2021, porque o vestibular da UFSC foi cancelado

Susane: Foi muito legal a nossa conversa, sua história de vida, Bruno. Por mais que você não fale que é seu mérito, é muito inspiradora toda sua história, eu acho que muitas pessoas passam pela mesma coisa e não veriam tão longe, muito legal o exemplo da sua irmã, ela é parte tanto quanto você do resultado de medicina. Qual o seu instagram?

Bruno: @blkfut.

Susane: Eu vou deixar embaixo link para o pessoal clicar, seguir você. Eu só desejo tudo de bom, daqui a pouco você vai ser o médico lá do hospital, de outro hospital ou onde você quiser ir e muito sucesso pela frente.

Bruno: Eu que agradeço o convite, é sempre bom compartilhar essas experiências com as pessoas, para as pessoas verem que a realidade pode estar um pouco representada e eu acho legal fazer parte disso.

Susane: Sim, com certeza, por exemplo, nas pessoas que eu entrevisto, é difícil achar uma pessoa com a história parecida com a sua, então, foi maravilhoso para mim também, porque eu sempre quis mostrar esse lado de que é possível, independente de onde você vem, isso é muito legal. Só desejo gratidão por você aparecer e compartilhar sua história.