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[Podcast] Como estudar para mudar de profissão: da arquitetura para medicina com Bruna Barreto


“Eu vi que a arquitetura não era pra mim”
Hoje converso com a Bruna do Instagram @lbrunabarreto, a Bruna decidiu mudar de profissão e passou em medicina na UFC com uma nota altíssima no ENEM. 
Essa conversa traz um aprendizado de autoconhecimento, de técnicas de estudo, de estratégia de prova. Enfim, tenho certeza que você vai amar.
2 dicas da Bruna: 

  1. Tenha metas de estudo!! Termine o dia de estudos com uma sensação de missão cumprida! Assim você ficará livre para fazer o que quiser sem peso na consciência. 
  2. Estude com exercícios:  preste o máximo de atenção na aula e depois faça muitos exercícios, não perca tempo lendo, buscando livros pra ler, não, já comece logo a aplicar o que você aprendeu na aula. 

Escute aqui:

Transcrição:

SUSANE- Antes de tudo, muito obrigada por aceitar participar, eu sei que é corrida a sua rotina de estudante de medicina, então muito obrigada!

BRUNA- Ainda não começou, tô de férias ainda

SUSANE- Ai que bom!

BRUNA- começa em agosto. Quase que entro pro primeiro semestre, chamaram até a pessoa que tava na minha frente, aí eu fiquei na expectativa mas não chamaram não.

SUSANE- Ah legal, tem mais umas férias então, né?!
BRUNA- Sim, graças a Deus.

SUSANE- Você vai começar a estudar na UFC, né? Maior solzão aí em Fortaleza, deve ser uma maravilha.

BRUNA- Sempre foi meu sonho, a UFC, e é incrível, incrível mesmo!

SUSANE- antes de tudo, você fez arquitetura, conta pra gente como foi.

BRUNA- Sou formada em arquitetura na UFC também, então já é o segundo curso que eu vou fazer lá. Vou começar falando de como era no ensino médio, porque acho que começa daí, a gente escolhe o curso que a gente vai fazer… Pelo menos eu, sempre tive na cabeça que eu queria medicina, sempre foi o objetivo principal, nunca pensei em outra área; desde a quinta série participava daqueles clubinhos de ciências que tinha na escola, olimpíada… Nunca fui premiada nem nada, mas eu ia pra aula, achava legal… E aí no terceiro ano do ensino médio fiz todos os vestibulares, queria UFC, mas não passei nesse ano; vale ressaltar que eu não tinha método nenhum de estudo, só queria medicina e pronto! Achava que ia fluir, era uma aluna boa , tirava notas boas, mas não tinha essa maturidade pra estudar, maturidade que eu tenho hoje.

SUSANE- e Bruna, só um parênteses, já era o enem ou ainda era o vestibular?

BRUNA- não, ainda era o vestibular tradicional, você tinha que escolher antes o curso, fazia só UFC, fazia a estadual, e fiz também uma particular. Era prova discursiva de química e biologia, essas coisa… E aí não passei, mas passei na UNIFOR, não era meu sonho, mas abriu uma oportunidade de fazer medina logo que saí do terceiro ano, então… Mas sempre ficou na minha cabeça que eu era capaz de ter passado se eu tivesse estudado mais. Fiz três semestres na UNIFOR, mas como eu falei, no terceiro ano eu não tinha um método de estudo, então quando começou a faculdade, foi bem intenso pra mim, lá era o método PBL, já começou por aí, você é mais autodidata do que depender de professores, então eu já não tinha método, e começar com um método PBL, que o aluno é mais autônomo e eu não tinha toda essa autonomia, era muito complicado e eu não me adaptava… A gente acha que vai passar em medicina e vai ser tudo perfeito, o curso dos seus sonhos, mas quando chega a realidade não é bem assim; passei por muitas coisas lá, muitas crises, se era isso mesmo que eu devia fazer…

SUSANE- Por isso é importante aproveitar essa época do vestibular, do ENEM, para aprender a estudar, pra chegar na faculdade com o método certo. E aí, Bruna, o que aconteceu então? Você passou um ano e meio, e pensou: vou fazer outra coisa?

BRUNA- Na metade do quarto semestre vieram pressões de todos os lados, se fosse só a faculdade ainda dava pra levar, mas começaram outras a vir outras coisas na minha vida, e aí eu cheguei no meu limite emocional e tinha que abrir mão de alguma coisa. E aí eu falei com a minha mãe, e ela falou que eu podia trancar, e eu tranquei, nem pensei! Aí ela disse pra eu me inscrever logo num cursinho, então me inscrevi em um intensivo, porque já era o segundo semestre, no final de agosto, setembro… Era o vestibular tradicional, não era nem ENEM, então tive que escolher qual era o curso antes de fazer a prova, e eu não tinha a menor ideia de qual escolher. Eu não queria fazer nada na área da saúde porque pra mim era a mesma coisa de medicina, ia ver as mesmas matérias de novo… Eu queria mudar de área, conhecer outras coisas, porque eu estava muito angustiada… Aí pensei em arquitetura porque achava legal, bonito… Sempre gostei dessa parte de arte, de beleza, tanto que eu penso muito em ir pra parte de cirurgia plástica, mas aí conforme vamos caminhando na faculdade às vezes muda, mas eu gosto muito. E aí fui pra arquitetura, não era uma coisa que eu gostava, nem que eu pesquisava sobre, mas tive que escolher em duas semanas, fiz; mas ainda tinha teste de desenho, de habilidades específicas, aí eu pensei: meu Deus, como é que eu vou passar no teste de habilidades específicas, se eu nunca quis esse curso?! E eu rezava, se for pra passar que eu passe! E aí eu passei, nem sei como, no outro ano eu já comecei arquitetura na UFC, ainda passei pro primeiro semestre.

SUSANE- Isso é muita loucura né? A gente tem que decidir  vida inteira de trabalho em tão pouco tempo e em uma idade que a gente não sabe nada…

BRUNA- É muita pressão! Imagina a pessoa que passa dois anos pra escolher, pensando… Porque eu não tinha pensado, sempre foi medicina, não cogitava outras profissões, e aí eu tive que escolher qualquer outra coisa em duas semanas; foi bem tenso. E aí comecei o curso com um pensamento legal, desenhando embaixo das árvores, desenhando o que eu tava vendo… Era bem legal. E aí foi passando e vieram os projetos, projeto arquitetônico I… Aí começa a vim a pedreira; ali eu comecei a ver que arquitetura não era férias, quem passou pra arquitetura sabe que são muitas noites sem dormir pra entregar projeto. Eu notei a diferença da medicina pra arquitetura, que a medicina tinha que le muito, estudar muito; e na arquitetura tinha que fazer muitas coisas, executar, fazer projetos, não passar muito tempo sentado estudando; mas exigia tempo igual. Quando eu comecei a estagiar, eu já comecei a ver que eu não queria trabalhar com aquilo, era legal, mas não era aquilo que eu queria pra mim.

SUSANE- Como era seu estágio? O que você fazia?

BRUNA- Fazia projetos de arquitetura. Como eu era estagiária, o arquiteto falava que queria um loteamento, uma casa… E dizia como eu devia fazer, aí eu fazia várias opções e ele dizia qual tinha gostado, qual eu podia seguir em frente, fazer mais detalhes… Então era assim, projeto mesmo. Aí se eu fosse pra lá, como contratada mesmo, eu ia fazer praticamente a mesma coisa, só que com mais autonomia; mas eu achava meio monótono, só sentada em escritório…

SUSANE- E foi bom que você viu isso, porque já pensou se não fizesse estágio e esperasse vários anos depois de formada pra descobrir isso?!

BRUNA- É… Pra sentir como era a vida profissional. Eu passei ainda por três escritórios, fiz também interiores, fiz na prefeitura… Então eu vi como era, como ia ser a vida depois, vi como trabalhavam e eu não senti muita afinidade com essa vida de escritório, e lidar com cliente… Aí eu pensei em desistir, tava me sentindo mal no curso, porque vai chegando no final e ele vai pesando, exigindo mais de você… O meu trabalho de graduação quase que eu não termino! E eu casei no meio da faculdade, e meu marido me ajudou demais, ele virava noites comigo pra eu terminar meu trabalho. E eu pensei: eu não posso ficar só desistindo de faculdades, entrando e desistindo, não vou fazer isso com a minha vida, vou pelo menos terminar uma e depois eu vejo; porque como eu tinha saído da medicina eu ficava com muito medo de voltar e sentir tudo aquilo de novo, mas eu sabia que aquilo ali era minha vocação, eu nunca tinha me afastado, nunca tinha parado de pesquisar as coisas que eu gosto na área da saúde, sempre continuei vendo cirurgias no instagram… Essas coisa que eu gostava mesmo! Mas não queria dar o braço à torcer, “se eu saí é porque não era pra eu fazer”. Eu ainda passei uns seis meses depois que eu me formei pensando o que eu ia fazer, porque eu falei pro meu marido que eu não queria trabalhar na área e perguntei pra ele como é que ia ser, e ele disse que tava tudo bem, por enquanto conseguia sustentar sozinho; e esse apoio que ele me deu foi muito incrível pra mim.

SUSANE- Porque se tivesse que decidir rápido, em  duas semanas de novo, talvez você não tivesse feito a escolha certa.

BRUNA- Exatamente. Nesse período eu conversei com as minhas amigas a época de medicina, perguntei como elas estavam, se elas estavam gostando… Conversei com os meu pais, perguntei pra minha mãe o que ela achava, pro meu marido… Fiquei conversando com várias pessoas e pensei muito também; porque eu tava sete anos parada, tinha estudado só pra arquitetura por seis anos e eu não lembrava de mais nada; da vez que eu voltei, pra estudar da medicina pra arquitetura, eu já tinha esquecido tudo. Eu não lembrava o que era número atômico, não lembrava como resolvia uma equação de segundo grau… E aí eu já tinha passado por isso na época da arquitetura, pra eu estudar de novo, vou estar pior!

SUSANE- Então quando você começou a estudar, viu que tinha começado praticamente do zero?

BRUNA- Isso! Eu tava pensando se eu voltava a estudar ou não, porque quando eu voltei a estudar pra arquitetura, eu não lembrava de nada, então agora eu não vou lembrar de nada “ao quadrado”, e vai ser muito complicado, posso não passar, demorar muitos anos, vai ser um vestibular muito difícil, vou ter que me dedicar muito, mais seis anos pela frente ou mais, ainda tem especialização, vou ver todos os meu amigos já formados, será que não é melhor eu só fazer um mestrado… Entendeu? E eu não suportava a ideia de trabalhar com arquitetura, era uma coisa que eu já tinha certeza, eu até faço pra mim mesma, fiz a cozinha da minha irmã, mas eu não queria trabalhar com isso! Aí eu pensei daqui a dez anos eu vou me arrepender muito se eu não tomar essa decisão, aí eu pesei tudo, sabia que ia ser difícil… E aí eu decidi em maio, e já decidi no foco, decidida, sabia que era isso mesmo que eu queria fazer. Então comecei a pesquisar sobre métodos de estudo, se eu deveria estudar em casa proar cursinho, “caí” nos seus vídeos, então a gente vai pesquisando tudo! Eu tinha que saber qual o melhor método, estudar de uma forma bem inteligente, sem ficar perdendo tempo, com uma mente mais concurseira, mais estratégico, sem a frescura de menina do terceiro ano que eu tinha; como eu passei pela arquitetura que a gente tinha que “dar o sangue”, virar noite mesmo, eu me decidi estudar sem frescura! Eu tava disposta a fazer isso, mas quando eu fui pesquisando, vi que virar noite não era executável, não era uma coisa que me faria alcançar bons resultados, aí comecei a fazer essa escolhas. Então eu percebi que não conseguiria estudar pela internet, sozinha; fui atrás de cursinho porque eu me conheço, sabia que a longo prazo eu não ia ter disciplina e também não tinha noção de cronograma, então fui pra um cursinho.

SUSANE- Eu acho que quem tá começando, com base zero, não sabe nada, nem as matérias; talvez seja melhor um cursinho mesmo.

BRUNA- Sim, eu não sabia nem o que caia, não tinha a menor experiência com ENEM, porque eu nunca tinha feito, e era outra mudança. Aí eu fui ligar pros cursinhos, já era maio, eles falaram que não era bom eu entrar agora, que eu teria perdido muita matéria, que era pra eu esperar o segundo semestre e fazer o intensivo. E nesse tempo eu fiquei em casa estudando sobre estudar, enquanto não começava o cursinho fiquei em casa pesquisando sobre esses métodos, e aí em julho abriu um curso de férias em um cursinho muito bom, e eu fiz esse curso que era de matemática e física, aí já deu pra começar a me acostumar a estudar de novo, me acostumar a assistir a aula, já ir pegando o ritmo pra quando eu começasse em agosto já estar naquela rotina acostumada a estudar. Foi incrível começar por matemática e física que eram as coisas que eu mais tinha esquecido.

SUSANE- Nossa, eu achei muito boa a ideia de começar com duas matérias só, porque às vezes é muito chocante você começar com dez matérias de uma vez.

BRUNA- Foi. E foi bom esse curso de férias, porque eles conseguem dar em duas semanas… porque são quatro horas por dia, em duas semanas; então é quase o primeiro semestre inteiro, então é muita matéria, só que bem intensivo, você não perde o fio da meada, e eu achei incrível! E aí começando por essas duas já me dava a tranquilidade de que ia dar certo, já achava as outras mais tranquilo… E o que eu sentia? quando eu ia pras aulas no começo… Lembra aquele vídeo do flow né? Nossa, eu ficava com tanta ansiedade durante a aula, porque eu não entendia, aí o professor falava assim: Eu não vou perder tempo resolvendo essa equação de segundo grau, porque vocês já estão cansados de saber. Mas eu não sabia, porque eu não lembrava, e eu tinha tanta vontade de chorar com aquilo, mas aí eu pensava: não, eu tenho que me acalmar; porque na arquitetura eu chorava mesmo! Mas agora não, eu vou tentar controlar meu emocional pra conseguir sobreviver a isso aqui.

SUSANE- É, isso é super importante, porque você até aprende melhor quando se acalma.

BRUNA- Sim, eu pensava: agora tá difícil mas daqui a pouco vou aprender, são só duas matérias, vou pegar essas fórmulas e ficar memorizando… Eu sabia que tinha que fazer um esforço maior que os dos outros, mas eu tinha em mente que ia conseguir, depois igualar, depois passar! E outra coisa que eu pensava muito era que eu não podia me comparar com ninguém, porque se eu fosse comparar eu ia ficar doida, porque era uma loucura comparar; uma pessoa que tava parada há tanto tempo com um monte de gente que tava ali há dois, três anos no cursinho; não tinha como comparar! Vou esquecer as outras pessoas e vou focar no meu aprendizado.

SUSANE- Aí você começou o intensivo, mas e nas outras matérias? como foi?

BRUNA- Biologia eu lembrava um pouco porque eu nunca parei de pesquisar coisas de medicina, mas o resto não lembrava não. Lembrava também um pouco daquela parte de literatura de escolas, porque na arquitetura tinha história da arte, e aí pega um pouco isso aí; nessa parte ainda tinha mais pra agregar porque sabia a parte de arquitetura, não só de arte. Eu nunca tinha tido aula de filosofia nem de sociologia na vida, então era tudo totalmente novo pra mim! Mas quando eu “engatei” da metade do curso de férias pra lá, que eu comecei a aprender, comecei a responder na aula, comecei a acertar, eu fiquei muito confiante de que eu ia aprender, e assim foi! Eu queria ser a pessoa que tira dúvida das outras, e realmente, algumas pessoas vinham me perguntar e eu sabia, era muito legal, me sentia muito encorajada com isso.

SUSANE- E bruna, como que era sua rotina de estudos?

BRUNA- Era assim: nesse cursinho intensivo, a gente tinha aula pela manhã inteira e uns três dias, à tarde, até seis horas; era muita aula, eu não gosto muito disso, mas como era matéria do ano inteiro que a gente vê em três meses, tinha que ser assim. Nesses dias que tinham aula até seis horas, eu continuava lá ,pra não perder tempo de deslocamento, continuava lá até dez horas da noite, aí ficava fazendo questão; como eu via que não dava tempo de fazer todos os dias, aí eu fazia durante a aula mesmo. Mas o que eu pensava?! Só são três meses, então eu não vou ficar cansada, e eu não me preocupava com revisão, porque eu achava que não ia esquecer em três meses. E nos outros dois dias sobrando também preenchia com questões e, a coisa ruim, não dava tempo de fazer redação! Eu acabei nesse ano focando mais nas exatas, que era o que eu sentia mais dificuldade, deixei um pouco de lado humanas, não fiz redação e era assim.

SUSANE- E aí como foi depois no ENEM, não ter feito redação?

BRUNA- Foi assim, eu fiz um simulado lá, só teve um simulado de ENEM, porque lá eles focam em outros vestibulares também, e quando eu fiz, a minha nota foi 720! Aí eu comecei a ficar desesperada, porque eu não sabia fazer redação do ENEM; a professora falou que o meu texto não tava argumentativo, tava expositivo;e ela não me dizia como fazer, aí eu tive que entrar pra um curso de redação, e aí foi minha salvação, porque eu não sabia nada. Era um curso incrível, ensinava tudo do zero… Só que eu não fazia a redação, eu só estudava o que escrever em cada parte da redação, porque eu tinha medo da nota… Mas eu devia ter feito. Quando foi no primeiro dia da prova, eu fui muito nervosa, por causa da redação, eu tentei ir decorando aquelas situações… Eu cheguei na prova me tremendo, por causa da redação, me desestabilizou muito, foi horrível. Aí eu comecei pela redação, não saia nada, era sobre os surdos; aí eu lembrei de Beethoven, porque meu marido é músico e ele me falava de Beethoven, aí pronto, coloquei ele lá! Só que eu demorei mais de duas horas pra fazer essa redação… Aí eu tinha que fazer as outras provas correndo, fui fazendo direto, depois fui marcando… A última linha da minha redação era o pessoal puxando a minha prova, foi tipo assim, só deu tempo de respirar; não bebi água… Nada, foi desesperador! Aí a nota desse primeiro dia, era matemática e redação, na época; foi 940 em redação, então pelo menos o curso funcionou, mas eu não tinha tempo e tava muito nervosa, então foi um 940 muito sofrido. Em humanas, eu fiz só 30 questões, fiz 600, eu acho; e linguagens consegui fazer 38 questões, pela graça de Deus! Porque no simulado que eu fiz, eu tinha tirado umas 27 questões, porque eu não entendia qual era a lógica da prova; e aí depois que eu fui mal nesse simulado, eu peguei várias provas antigas separadas por assunto, aí eu via como o ENEM cobrava cada assunto, até eu entender que às vezes eles colocavam coisas além do que o comando tinha pedido, ou menos, era sempre uma coisa sutil, e aí eu ia entendendo com a prova tava me cobrando, e foi isso que me ajudou muito!

SUSANE- Essa é uma dica muito boa pra todos, porque é assim que você entende o examinador, a prova… Você tem que fazer essas questões da prova , e não importa se é ENEM, FUVEST…

BRUNA- Exatamente. Tem que fazer muita questão, até você entender. Quando eu fui pegando o jeito, tinha questão que eu olhava o item e já sabia que era ele, sem nem ler, porque era a cara do ENEM  aquela resposta. E é isso, você vai pegando o jeitão da prova.

SUSANE- E Bruna, nesse primeiro semestre que você estudou, você estudava no fim de semana também?

BRUNA- Também. Domingo sempre tinha alguma coisa, simulado… Aí o quê que eu pensei? Ah sim, um detalhe, no cursinho não conseguiram terminar toda a matéria até o ENEM, faltou uns 20%, eu ficava desesperada. Mas aí fiz o ENEM, e para minha surpresa, eu fui muito bem, não passei nessa primeira, mas tirei 759, que daria pra passar em vários cursos… Eu percebi uma coisa: ninguém chega na prova sabendo tudo, e eu fui sem uma boa parte da matéria e não deu tanta diferença assim.

SUSANE- Talvez seja mais importante treinar as questões de prova, do que realmente saber toda a matéria.

BRUNA- Sim. E aí matemática foi bom, fiz 33 questões, natureza também. Quando eu terminei tava acabada, eu tava muito cansada; e não tinha como continuar esse ritmo pro outro ano, que ia ser extensivo.

SUSANE- Você não fazia exercício físico? Nada?

BRUNA- Não, zero… Não tinha como. E aí foi que eu pensei, a minha estratégia pro outro ano foi eu manter um ritmo que eu conseguisse ir até o final do ano sem me cansar. Mudei de cursinho; fui pra um cursinho que só tinha aula pela manhã e à tarde era livre. Sobre cursos extras eu pensei: fui muito linear no ENEM, não fui muito mal em nada, praticamente a mesma nota em tudo; então não tinha necessidade de fazer, e o tempo que ia ter a tarde ia ser bom pra eu poder fazer as questões, que via que era isso que tinha dado resultado pra mim; corrigir com profundidade, entender porque eu tô errando, criar algum mecanismo pra não errar mais… Essas coisas, que eu só podia fazer no meu tempo.

SUSANE- E você fazia questões do assunto da manhã?

BRUNA- Sim, sempre dos assuntos da manhã. Fazia em ritmo de prova, pra eu já pegar o tempo. Eu queria que no meu tempo de estudo fosse um simulado pra prova mesmo, então eu procurava não ficar enrolando… Fazer como se fosse prova, no tempo certo; e fazendo de uma forma assim, intensa, eu acabava muito rápido minhas questões. Outra coisa que eu fazia, pra saber se eu realmente tava indo bem, era fazer o meu rendimento dessas questões; porque como eu fazia como se fosse um mini simulado, eu via quantas tinha acertado, qual o percentual, e se eu ficasse abaixo de 70%, aí eu tinha que refazer, fazer mais questões… Lógico que toda questão que errasse eu ia atrás, mas quando era bem baixo já ligava um alerta vermelho. Mas quando eu via 100%, 92%… Eu via que realmente tava funcionando, eu tava aprendendo, e aí eu ficava muito empolgada pra continuar.

SUSANE- É muito legal ver o progresso , isso empolga, motiva a continuar. E outra coisa que eu achei legal é que você tinha um estudo ativo, focado… Você não ficava no celular, pensando “na morte da bezerra”, como você falou; você focava, e isso te dava tempo pra viver depois, porque muita gente estuda mais ou menos, fica olhando o WhatsApp, e depois reclama que não tem tempo pra fazer outra coisa, sendo que a pessoa que não se organizou.

BRUNA-  Exatamente. Eu acho que um momento que era crucial, que eu botava minha minha cabeça, é porque quando eu ia corrigir uma bateria dessas questões, de 14, eu ia olhar a resolução e a tentação de olhar as redes sociais era tão grande! E acontecia às vezes, e eu pensava: nossa, não acredito que eu perdi aqui 10, 20 minutos. Tinha que ser um trabalho mental mesmo, não posso ficar entrando em rede social… Nossa, isso atrapalha tanto! Que se as pessoas soubessem, quebrariam o celular e jogariam fora; porque pode tá custando a sua aprovação.

SUSANE- Tem uns estudos que mostram que a pessoa não consegue aprender profundamente quando ela troca todo tempo de atividade.

BRUNA- Parece que sua cabeça não entra, exatamente isso. Aí quando dava cinco e pouco eu ia pra casa, e aí pronto, chegava e esquecia que existia ENEM e ia viver minha vida tranquila, descansava mesmo. Outra coisa que me atrapalhava um pouco era depois de simulados, porque mesmo eu querendo trabalhar meu emocional, se em uma matéria eu tivesse ido mal, eu focava só nela e ficava super mal… E é uma coisa que a gente tem que trabalhar bem, essa parte emocional de às vezes ir mal, e mesmo assim usar a seu favor e tentar não se abalar tanto. Teve um simulado, especificamente, eu fui muito mal em matemática, e eu fiquei muito mal, super triste… Eu fiquei duas semanas sem estudar!

SUSANE- O quê que você, hoje, falaria pra você nessa época? Ou pra alguém que tá passando por isso, porque eu vejo que isso é muito comum.

BRUNA- Eu falaria: esse simulado não representa o que vai acontecer na hora da prova! Só vai te atrapalhar, aprenda com os erros, vamos seguir em frente… Nossa, me atrapalhou tanto que eu tive que fazer um planejamento enorme pra recuperar essas semanas que fiquei parada. Era assim: eu fazia as minha questões do dia, e no noturno, que era o que eu tinha livre pra mim, eu fazia alguns atrasos; passei um bom tempo pra tirar esses atrasos, mas consegui, graças a Deus.

SUSANE- E aí você aprendeu a lição nos outros simulados, de não se abalar.

BRUNA- De não me abalar, porque me custou as minhas noites; o tempo que eu poderia tá ali tranquila, tava lá tendo que fazer questão! E aquela coisa, foi um simulado que não foi tão bem feito, tinha muita questão de um jeito só, e eu errei todas daquela mesma matéria… Não tinha como ser parâmetro, mas abala se você não tiver isso na cabeça.

SUSANE- Bom que foi um aprendizado e agora você tá compartilhando pra outras pessoas não passarem por isso também. E Bruna, você fazia também provas antigas?

BRUNA- Do ENEM eu escolhi fazer só no segundo semestre, fazer um intensivão; porque eu não queria “queimar cartucho” no início; no início eu queria só fazer as questões da apostila, que já tinha algumas do ENEM, mas eu gostei de ter feito daquela forma que eu te falei, de ter separado as questões por matéria, pertinho da prova, porque aí me dava aquela sensação de que eu tava bem preparada para aquela prova, com o estilo dela na minha mente. Aí quando chegou uns dois meses antes do ENEM, aí eu comecei! Imprimi um caderno de uns 4 dedos só com questões do ENEM desde 2012, aí saí fazendo tudo; não sei quantas provas eu fiz, fui fazendo o tanto que desse, sem limites.

SUSANE- Isso à tarde e à noite?

BRUNA- À tarde… E até quando eu sentisse que eu tava tranquila. Nesse segundo semestre, mais pertinho da prova, eu tava indo até um pouco mais tarde, porque já tava pertinho, eu sabia que já ia acabar, tô aqui fazendo, acertando… Era legal. E as questões da aula, eu fazia na hora da aula mesmo, pra de tarde me concentrar só nas provas antigas mesmo.

SUSANE- Essa dica de fazer questões na aula é muito legal… E você pegar a tarde pra provas, né?! Principalmente no segundo semestre. E a redação?

BRUNA- Tenho problemas com redação. No primeiro semestre eu até tentei; eu falava com a psicóloga lá do cursinho, ela falava: você tem que fazer redação, eu vou ficar lhe cobrando… Eu não fiz nenhuma! Eu sentava pra fazer e não saía nada! Eu ficava pensando que não ia conseguir, e começava a me dar ansiedade, aí eu ia fazer questões de matemática pra ficar mais feliz. É aquela coisa, você estuda o que você mais gosta  e deixa de lado o que não gosta; o que eu mais gostava era qualquer outra matéria, redação eu não fazia nem a pau! Eu tava me confiando que no segundo semestre abria de novo aquele curso, mas o que aconteceu?! As vagas acabaram muito rápido, e quando tinha vaga era muito caro, não tinha condições de fazer, aí eu fiquei desesperada. Daí eu comecei a estudar formas de fazer a redação mais fácil do que como eu tava fazendo, aí eu encontrei o Redação Máxima, que é um instagram, e comecei a pegar as dicas dele, que eram coisas que eu conseguiria encaixar em qualquer tema pra argumentar. Eu não fazia uma redação inteira, mas eu fazia várias introduções, pra eu conseguir encaixar aquilo na minha cabeça. Aí eu fiz um modelo de redação, com espaços em branco, pra somente preencher, pra eu não ficar travada nesse começo e foi o que me salvou! Fiz o modelo e treinava nos simulados. Pra não dizer que eu não fazia redação, eu fazia nos simulados que eram todos os domingos.

SUSANE- E no ENEM, como foi?

BRUNA- Quando eu vi a nota… 980! Até agora não sei como isso aconteceu. Mas quando eu olhei eu não acreditei, eu achava impossível tirar 980 pelo meu histórico, mas eu fiz exatamente do jeito que eu tinha treinado, quando eu saí da prova, eu saí bem tranquila. E outra coisa boa foi que eu não fiz a prova ansiosa; eu cheguei na prova bem tranquila, já sabendo como começar, direitinho… Quando eu vi o tema, já sai escrevendo o rascunho direto, aí eu terminei o rascunho em meia hora, bem rápido, e fui fazer o resto da prova. Nossa, deu tempo de voltar, voltei várias vezes, fiz de novo as que eu tinha dúvida, aí passei a redação a limpo, também em meia hora, e pronto, sobrou tempo. Nesse primeiro dia entreguei a prova faltando meia hora pra acabar. E no segundo dia, que era matemática… Também foi a mesma coisa, deu tempo de voltar e resolver com calma as que eu não soube resolver de primeira. Matemática eu fiz 34 questões, pelo TRI deu quase 890, com 34 questões só! E natureza, eu acho que eu já tava cansada no final, porque o resultado dela foi bem mais baixo, umas 4 questões mais baixas do que eu costumava fazer nos simulados; nos simulados eu fazia por volta de 40, e no ENEM eu fiz 34; não foi tão bom quanto eu esperava, mas me deu uma nota boa e eu passei, então pronto, já foi! Às vezes o simulado é bom pra ter um parâmetro, mas nem sempre vai ser assim! quando eu corrigi humanas, eu fiquei quase chorando, porque eu fiz 40 questões, e eu achava que no ENEM não era possível fazer 40 questões, fiquei na lua. Linguagens foi 37, bem parecido com o ano passado, e Redação foi o que botou lá pra cima.

SUSANE- Bruna, teve algum momento que você ficou muito pra baixo, que você perdeu motivação ou algo do tipo?  

BRUNA- Sim, com certeza. Principalmente depois de simulado, como eu falei, ficava bem mal; e eu acho que às vezes com coisas da vida mesmo, ficava meio mal… Às vezes tem uns períodos que você só fica meio cansado, pra baixo mesmo… Às vezes eu noto que quando eu vinha tendo uma semana bem puxada já começava a semana meio esgotada, acontecia às vezes; aí eu tirava , assim, uma terça pra não fazer nada, porque eu tava muito cansada. Só não faltava aula, mas às vezes eu parava de estudar nesses períodos assim, sabe?!

SUSANE- Como foi a emoção de passar, depois que você viu o resultado?

BRUNA- O mais emocionante foi da nota mesmo, porque eu sabia quantas questões eu tinha feito e tava ansiosa… O pior pra mim era redação, que eu tava muito insegura, achei que fui bem, mas ninguém nunca sabe; aí quando foi na hora fiquei o atualizando o site, meu marido de um lado e eu do outro, aí quando abriu a primeira coisa que eu vi: redação; aí fiquei atualizando pra ver se era verdade, e fiquei muito sem acreditar. Aí eu olhei todas as minha notas todas acima de 700 e 800, nada com 600; aí quando eu vi que tinha ficado acima de 800 a média, 809, aí fiquei sem acreditar porque minha meta era ficar acima de 790 que tinha sido um dos cortes mais altos da CFC, mas foi muito acima do que eu esperava, nunca pensei que fosse dar acima de 800. Aí quando o pessoal começou a falar que tinham tirado nota boa também, aí deu aquele medinho, e realmente o corte desse ano foi o mais alto da UFC. Mas mesmo assim, passei tranquilo… Quando você bota no SISU, pra mim, já não tem mais tanta emoção, fica só variando um pouco a colocação, mas não ficava perto de ficar fora; dá aquele medinho mas você fica mais tranquila; e quando saiu o resultado foi mais um alívio, porque tinha acabado a espera; aí depois agente foi comemorar… Ainda é muito surreal porque não começou de fato as minhas aulas, eu só fiz alguns cursos na UFC, aqueles que as ligas oferecem.

SUSANE- E quando você olha pra trás, a jornada toda, o que você falaria de dica pra quem ainda tá estudando, que foi fundamental pra você?

BRUNA- Eu acho que colocar todo o seu esforço, mas no canto certo! Dar tudo de si, mas de uma maneira inteligente, por exemplo, fazer mais exercícios e não ficar indo ler o livro, eu via pessoas que faziam muito isso, passavam a tarde inteira lendo, sem prestar tanta atenção na aula, aí tinha que ir atrás de teoria de novo… Fazendo essas coisas que não tem tanta eficiência; acho que isso e conseguir se planejar pra você passar esse período do cursinho da melhor forma, estudar na hora certa e fazer suas coisas na hora certa, estar com a sensação de dever comprido!

SUSANE- Nossa, foi muito boa essa entrevista, cheia de dicas muito boas, muita obrigada! E também quero desejar tudo de bom no seu caminho daqui pra frente e que você tenha um curso excelente de medicina, que seja mesmo o que você quer e que você se encontre lá!

BRUNA- Muito obrigada, também amei participar, e nossa! Tá falando contigo é muito surreal, muito incrível! Tô muito feliz, e que quem estiver ouvindo possa usar algumas dessas dicas, e quem sabe, ano que vem, vocês estarão aqui dando entrevista! Se esforcem que vai dar certo!

SUSANE- Obrigada, Bruna! Tchau, tchau!

SUSANE- Antes de tudo, muito obrigada por aceitar participar, eu sei que é corrida a sua rotina de estudante de medicina, então muito obrigada!

BRUNA- Ainda não começou, tô de férias ainda

SUSANE- Ai que bom!

BRUNA- começa em agosto. Quase que entro pro primeiro semestre, chamaram até a pessoa que tava na minha frente, aí eu fiquei na expectativa mas não chamaram não.

SUSANE- Ah legal, tem mais umas férias então, né?!
BRUNA- Sim, graças a Deus.

SUSANE- Você vai começar a estudar na UFC, né? Maior solzão aí em Fortaleza, deve ser uma maravilha.

BRUNA- Sempre foi meu sonho, a UFC, e é incrível, incrível mesmo!

SUSANE- antes de tudo, você fez arquitetura, conta pra gente como foi.

BRUNA- Sou formada em arquitetura na UFC também, então já é o segundo curso que eu vou fazer lá. Vou começar falando de como era no ensino médio, porque acho que começa daí, a gente escolhe o curso que a gente vai fazer… Pelo menos eu, sempre tive na cabeça que eu queria medicina, sempre foi o objetivo principal, nunca pensei em outra área; desde a quinta série participava daqueles clubinhos de ciências que tinha na escola, olimpíada… Nunca fui premiada nem nada, mas eu ia pra aula, achava legal… E aí no terceiro ano do ensino médio fiz todos os vestibulares, queria UFC, mas não passei nesse ano; vale ressaltar que eu não tinha método nenhum de estudo, só queria medicina e pronto! Achava que ia fluir, era uma aluna boa , tirava notas boas, mas não tinha essa maturidade pra estudar, maturidade que eu tenho hoje.

SUSANE- e Bruna, só um parênteses, já era o enem ou ainda era o vestibular?

BRUNA- não, ainda era o vestibular tradicional, você tinha que escolher antes o curso, fazia só UFC, fazia a estadual, e fiz também uma particular. Era prova discursiva de química e biologia, essas coisa… E aí não passei, mas passei na UNIFOR, não era meu sonho, mas abriu uma oportunidade de fazer medina logo que saí do terceiro ano, então… Mas sempre ficou na minha cabeça que eu era capaz de ter passado se eu tivesse estudado mais. Fiz três semestres na UNIFOR, mas como eu falei, no terceiro ano eu não tinha um método de estudo, então quando começou a faculdade, foi bem intenso pra mim, lá era o método PBL, já começou por aí, você é mais autodidata do que depender de professores, então eu já não tinha método, e começar com um método PBL, que o aluno é mais autônomo e eu não tinha toda essa autonomia, era muito complicado e eu não me adaptava… A gente acha que vai passar em medicina e vai ser tudo perfeito, o curso dos seus sonhos, mas quando chega a realidade não é bem assim; passei por muitas coisas lá, muitas crises, se era isso mesmo que eu devia fazer…

SUSANE- Por isso é importante aproveitar essa época do vestibular, do ENEM, para aprender a estudar, pra chegar na faculdade com o método certo. E aí, Bruna, o que aconteceu então? Você passou um ano e meio, e pensou: vou fazer outra coisa?

BRUNA- Na metade do quarto semestre vieram pressões de todos os lados, se fosse só a faculdade ainda dava pra levar, mas começaram outras a vir outras coisas na minha vida, e aí eu cheguei no meu limite emocional e tinha que abrir mão de alguma coisa. E aí eu falei com a minha mãe, e ela falou que eu podia trancar, e eu tranquei, nem pensei! Aí ela disse pra eu me inscrever logo num cursinho, então me inscrevi em um intensivo, porque já era o segundo semestre, no final de agosto, setembro… Era o vestibular tradicional, não era nem ENEM, então tive que escolher qual era o curso antes de fazer a prova, e eu não tinha a menor ideia de qual escolher. Eu não queria fazer nada na área da saúde porque pra mim era a mesma coisa de medicina, ia ver as mesmas matérias de novo… Eu queria mudar de área, conhecer outras coisas, porque eu estava muito angustiada… Aí pensei em arquitetura porque achava legal, bonito… Sempre gostei dessa parte de arte, de beleza, tanto que eu penso muito em ir pra parte de cirurgia plástica, mas aí conforme vamos caminhando na faculdade às vezes muda, mas eu gosto muito. E aí fui pra arquitetura, não era uma coisa que eu gostava, nem que eu pesquisava sobre, mas tive que escolher em duas semanas, fiz; mas ainda tinha teste de desenho, de habilidades específicas, aí eu pensei: meu Deus, como é que eu vou passar no teste de habilidades específicas, se eu nunca quis esse curso?! E eu rezava, se for pra passar que eu passe! E aí eu passei, nem sei como, no outro ano eu já comecei arquitetura na UFC, ainda passei pro primeiro semestre.

SUSANE- Isso é muita loucura né? A gente tem que decidir  vida inteira de trabalho em tão pouco tempo e em uma idade que a gente não sabe nada…

BRUNA- É muita pressão! Imagina a pessoa que passa dois anos pra escolher, pensando… Porque eu não tinha pensado, sempre foi medicina, não cogitava outras profissões, e aí eu tive que escolher qualquer outra coisa em duas semanas; foi bem tenso. E aí comecei o curso com um pensamento legal, desenhando embaixo das árvores, desenhando o que eu tava vendo… Era bem legal. E aí foi passando e vieram os projetos, projeto arquitetônico I… Aí começa a vim a pedreira; ali eu comecei a ver que arquitetura não era férias, quem passou pra arquitetura sabe que são muitas noites sem dormir pra entregar projeto. Eu notei a diferença da medicina pra arquitetura, que a medicina tinha que le muito, estudar muito; e na arquitetura tinha que fazer muitas coisas, executar, fazer projetos, não passar muito tempo sentado estudando; mas exigia tempo igual. Quando eu comecei a estagiar, eu já comecei a ver que eu não queria trabalhar com aquilo, era legal, mas não era aquilo que eu queria pra mim.

SUSANE- Como era seu estágio? O que você fazia?

BRUNA- Fazia projetos de arquitetura. Como eu era estagiária, o arquiteto falava que queria um loteamento, uma casa… E dizia como eu devia fazer, aí eu fazia várias opções e ele dizia qual tinha gostado, qual eu podia seguir em frente, fazer mais detalhes… Então era assim, projeto mesmo. Aí se eu fosse pra lá, como contratada mesmo, eu ia fazer praticamente a mesma coisa, só que com mais autonomia; mas eu achava meio monótono, só sentada em escritório…

SUSANE- E foi bom que você viu isso, porque já pensou se não fizesse estágio e esperasse vários anos depois de formada pra descobrir isso?!

BRUNA- É… Pra sentir como era a vida profissional. Eu passei ainda por três escritórios, fiz também interiores, fiz na prefeitura… Então eu vi como era, como ia ser a vida depois, vi como trabalhavam e eu não senti muita afinidade com essa vida de escritório, e lidar com cliente… Aí eu pensei em desistir, tava me sentindo mal no curso, porque vai chegando no final e ele vai pesando, exigindo mais de você… O meu trabalho de graduação quase que eu não termino! E eu casei no meio da faculdade, e meu marido me ajudou demais, ele virava noites comigo pra eu terminar meu trabalho. E eu pensei: eu não posso ficar só desistindo de faculdades, entrando e desistindo, não vou fazer isso com a minha vida, vou pelo menos terminar uma e depois eu vejo; porque como eu tinha saído da medicina eu ficava com muito medo de voltar e sentir tudo aquilo de novo, mas eu sabia que aquilo ali era minha vocação, eu nunca tinha me afastado, nunca tinha parado de pesquisar as coisas que eu gosto na área da saúde, sempre continuei vendo cirurgias no instagram… Essas coisa que eu gostava mesmo! Mas não queria dar o braço à torcer, “se eu saí é porque não era pra eu fazer”. Eu ainda passei uns seis meses depois que eu me formei pensando o que eu ia fazer, porque eu falei pro meu marido que eu não queria trabalhar na área e perguntei pra ele como é que ia ser, e ele disse que tava tudo bem, por enquanto conseguia sustentar sozinho; e esse apoio que ele me deu foi muito incrível pra mim.

SUSANE- Porque se tivesse que decidir rápido, em  duas semanas de novo, talvez você não tivesse feito a escolha certa.

BRUNA- Exatamente. Nesse período eu conversei com as minhas amigas a época de medicina, perguntei como elas estavam, se elas estavam gostando… Conversei com os meu pais, perguntei pra minha mãe o que ela achava, pro meu marido… Fiquei conversando com várias pessoas e pensei muito também; porque eu tava sete anos parada, tinha estudado só pra arquitetura por seis anos e eu não lembrava de mais nada; da vez que eu voltei, pra estudar da medicina pra arquitetura, eu já tinha esquecido tudo. Eu não lembrava o que era número atômico, não lembrava como resolvia uma equação de segundo grau… E aí eu já tinha passado por isso na época da arquitetura, pra eu estudar de novo, vou estar pior!

SUSANE- Então quando você começou a estudar, viu que tinha começado praticamente do zero?

BRUNA- Isso! Eu tava pensando se eu voltava a estudar ou não, porque quando eu voltei a estudar pra arquitetura, eu não lembrava de nada, então agora eu não vou lembrar de nada “ao quadrado”, e vai ser muito complicado, posso não passar, demorar muitos anos, vai ser um vestibular muito difícil, vou ter que me dedicar muito, mais seis anos pela frente ou mais, ainda tem especialização, vou ver todos os meu amigos já formados, será que não é melhor eu só fazer um mestrado… Entendeu? E eu não suportava a ideia de trabalhar com arquitetura, era uma coisa que eu já tinha certeza, eu até faço pra mim mesma, fiz a cozinha da minha irmã, mas eu não queria trabalhar com isso! Aí eu pensei daqui a dez anos eu vou me arrepender muito se eu não tomar essa decisão, aí eu pesei tudo, sabia que ia ser difícil… E aí eu decidi em maio, e já decidi no foco, decidida, sabia que era isso mesmo que eu queria fazer. Então comecei a pesquisar sobre métodos de estudo, se eu deveria estudar em casa proar cursinho, “caí” nos seus vídeos, então a gente vai pesquisando tudo! Eu tinha que saber qual o melhor método, estudar de uma forma bem inteligente, sem ficar perdendo tempo, com uma mente mais concurseira, mais estratégico, sem a frescura de menina do terceiro ano que eu tinha; como eu passei pela arquitetura que a gente tinha que “dar o sangue”, virar noite mesmo, eu me decidi estudar sem frescura! Eu tava disposta a fazer isso, mas quando eu fui pesquisando, vi que virar noite não era executável, não era uma coisa que me faria alcançar bons resultados, aí comecei a fazer essa escolhas. Então eu percebi que não conseguiria estudar pela internet, sozinha; fui atrás de cursinho porque eu me conheço, sabia que a longo prazo eu não ia ter disciplina e também não tinha noção de cronograma, então fui pra um cursinho.

SUSANE- Eu acho que quem tá começando, com base zero, não sabe nada, nem as matérias; talvez seja melhor um cursinho mesmo.

BRUNA- Sim, eu não sabia nem o que caia, não tinha a menor experiência com ENEM, porque eu nunca tinha feito, e era outra mudança. Aí eu fui ligar pros cursinhos, já era maio, eles falaram que não era bom eu entrar agora, que eu teria perdido muita matéria, que era pra eu esperar o segundo semestre e fazer o intensivo. E nesse tempo eu fiquei em casa estudando sobre estudar, enquanto não começava o cursinho fiquei em casa pesquisando sobre esses métodos, e aí em julho abriu um curso de férias em um cursinho muito bom, e eu fiz esse curso que era de matemática e física, aí já deu pra começar a me acostumar a estudar de novo, me acostumar a assistir a aula, já ir pegando o ritmo pra quando eu começasse em agosto já estar naquela rotina acostumada a estudar. Foi incrível começar por matemática e física que eram as coisas que eu mais tinha esquecido.

SUSANE- Nossa, eu achei muito boa a ideia de começar com duas matérias só, porque às vezes é muito chocante você começar com dez matérias de uma vez.

BRUNA- Foi. E foi bom esse curso de férias, porque eles conseguem dar em duas semanas… porque são quatro horas por dia, em duas semanas; então é quase o primeiro semestre inteiro, então é muita matéria, só que bem intensivo, você não perde o fio da meada, e eu achei incrível! E aí começando por essas duas já me dava a tranquilidade de que ia dar certo, já achava as outras mais tranquilo… E o que eu sentia? ando eu ia pras aulas no começo… Lembra aquele vídeo do flow né? Nossa, eu ficava com tanta ansiedade durante a aula, porque eu não entendia, aí o professor falava assim: Eu não vou perder tempo resolvendo essa equação de segundo grau, porque vocês já estão cansados de saber. Mas eu não sabia, porque eu não lembrava, e eu tinha tanta vontade de chorar com aquilo, mas aí eu pensava: não, eu tenho que me acalmar; porque na arquitetura eu chorava mesmo! Mas agora não, eu vou tentar controlar meu emocional pra conseguir sobreviver a isso aqui.

SUSANE- É, isso é super importante, porque você até aprende melhor quando se acalma.

Susane- Antes de tudo, muito obrigada por aceitar participar, eu sei que é corrida a sua rotina de estudante de medicina, então muito obrigada!

Bruna- Ainda não começou, tô de férias ainda

Susane- Ai que bom!

Bruna- começa em agosto. Quase que entro pro primeiro semestre, chamaram até a pessoa que tava na minha frente, aí eu fiquei na expectativa mas não chamaram não.

Susane- Ah legal, tem mais umas férias então, né?!
Bruna- Sim, graças a Deus.

Susane- Você vai começar a estudar na UFC, né? Maior solzão aí em Fortaleza, deve ser uma maravilha.

Bruna- Sempre foi meu sonho, a UFC, e é incrível, incrível mesmo!

Susane- antes de tudo, você fez arquitetura, conta pra gente como foi.

Bruna- Sou formada em arquitetura na UFC também, então já é o segundo curso que eu vou fazer lá. Vou começar falando de como era no ensino médio, porque acho que começa daí, a gente escolhe o curso que a gente vai fazer… Pelo menos eu, sempre tive na cabeça que eu queria medicina, sempre foi o objetivo principal, nunca pensei em outra área; desde a quinta série participava daqueles clubinhos de ciências que tinha na escola, olimpíada… Nunca fui premiada nem nada, mas eu ia pra aula, achava legal… E aí no terceiro ano do ensino médio fiz todos os vestibulares, queria UFC, mas não passei nesse ano; vale ressaltar que eu não tinha método nenhum de estudo, só queria medicina e pronto! Achava que ia fluir, era uma aluna boa , tirava notas boas, mas não tinha essa maturidade pra estudar, maturidade que eu tenho hoje.

Susane- e Bruna, só um parênteses, já era o enem ou ainda era o vestibular?

Bruna- não, ainda era o vestibular tradicional, você tinha que escolher antes o curso, fazia só UFC, fazia a estadual, e fiz também uma particular. Era prova discursiva de química e biologia, essas coisa… E aí não passei, mas passei na UNIFOR, não era meu sonho, mas abriu uma oportunidade de fazer medina logo que saí do terceiro ano, então… Mas sempre ficou na minha cabeça que eu era capaz de ter passado se eu tivesse estudado mais. Fiz três semestres na UNIFOR, mas como eu falei, no terceiro ano eu não tinha um método de estudo, então quando começou a faculdade, foi bem intenso pra mim, lá era o método PBL, já começou por aí, você é mais autodidata do que depender de professores, então eu já não tinha método, e começar com um método PBL, que o aluno é mais autônomo e eu não tinha toda essa autonomia, era muito complicado e eu não me adaptava… A gente acha que vai passar em medicina e vai ser tudo perfeito, o curso dos seus sonhos, mas quando chega a realidade não é bem assim; passei por muitas coisas lá, muitas crises, se era isso mesmo que eu devia fazer…

Susane- Por isso é importante aproveitar essa época do vestibular, do ENEM, para aprender a estudar, pra chegar na faculdade com o método certo. E aí, Bruna, o que aconteceu então? Você passou um ano e meio, e pensou: vou fazer outra coisa?

Bruna- Na metade do quarto semestre vieram pressões de todos os lados, se fosse só a faculdade ainda dava pra levar, mas começaram outras a vir outras coisas na minha vida, e aí eu cheguei no meu limite emocional e tinha que abrir mão de alguma coisa. E aí eu falei com a minha mãe, e ela falou que eu podia trancar, e eu tranquei, nem pensei! Aí ela disse pra eu me inscrever logo num cursinho, então me inscrevi em um intensivo, porque já era o segundo semestre, no final de agosto, setembro… Era o vestibular tradicional, não era nem ENEM, então tive que escolher qual era o curso antes de fazer a prova, e eu não tinha a menor ideia de qual escolher. Eu não queria fazer nada na área da saúde porque pra mim era a mesma coisa de medicina, ia ver as mesmas matérias de novo… Eu queria mudar de área, conhecer outras coisas, porque eu estava muito angustiada…

SUSANE- Antes de tudo, muito obrigada por aceitar participar, eu sei que é corrida a sua rotina de estudante de medicina, então muito obrigada!

BRUNA- Ainda não começou, tô de férias ainda

SUSANE- Ai que bom!

BRUNA- começa em agosto. Quase que entro pro primeiro semestre, chamaram até a pessoa que tava na minha frente, aí eu fiquei na expectativa mas não chamaram não.

SUSANE- Ah legal, tem mais umas férias então, né?!
BRUNA- Sim, graças a Deus.

SUSANE- Você vai começar a estudar na UFC, né? Maior solzão aí em Fortaleza, deve ser uma maravilha.

BRUNA- Sempre foi meu sonho, a UFC, e é incrível, incrível mesmo!

SUSANE- antes de tudo, você fez arquitetura, conta pra gente como foi.

BRUNA- Sou formada em arquitetura na UFC também, então já é o segundo curso que eu vou fazer lá. Vou começar falando de como era no ensino médio, porque acho que começa daí, a gente escolhe o curso que a gente vai fazer… Pelo menos eu, sempre tive na cabeça que eu queria medicina, sempre foi o objetivo principal, nunca pensei em outra área; desde a quinta série participava daqueles clubinhos de ciências que tinha na escola, olimpíada… Nunca fui premiada nem nada, mas eu ia pra aula, achava legal… E aí no terceiro ano do ensino médio fiz todos os vestibulares, queria UFC, mas não passei nesse ano; vale ressaltar que eu não tinha método nenhum de estudo, só queria medicina e pronto! Achava que ia fluir, era uma aluna boa , tirava notas boas, mas não tinha essa maturidade pra estudar, maturidade que eu tenho hoje.

SUSANE- e Bruna, só um parênteses, já era o enem ou ainda era o vestibular?

BRUNA- não, ainda era o vestibular tradicional, você tinha que escolher antes o curso, fazia só UFC, fazia a estadual, e fiz também uma particular. Era prova discursiva de química e biologia, essas coisa… E aí não passei, mas passei na UNIFOR, não era meu sonho, mas abriu uma oportunidade de fazer medina logo que saí do terceiro ano, então… Mas sempre ficou na minha cabeça que eu era capaz de ter passado se eu tivesse estudado mais. Fiz três semestres na UNIFOR, mas como eu falei, no terceiro ano eu não tinha um método de estudo, então quando começou a faculdade, foi bem intenso pra mim, lá era o método PBL, já começou por aí, você é mais autodidata do que depender de professores, então eu já não tinha método, e começar com um método PBL, que o aluno é mais autônomo e eu não tinha toda essa autonomia, era muito complicado e eu não me adaptava… A gente acha que vai passar em medicina e vai ser tudo perfeito, o curso dos seus sonhos, mas quando chega a realidade não é bem assim; passei por muitas coisas lá, muitas crises, se era isso mesmo que eu devia fazer…

SUSANE- Por isso é importante aproveitar essa época do vestibular, do ENEM, para aprender a estudar, pra chegar na faculdade com o método certo. E aí, Bruna, o que aconteceu então? Você passou um ano e meio, e pensou: vou fazer outra coisa?

BRUNA- Na metade do quarto semestre vieram pressões de todos os lados, se fosse só a faculdade ainda dava pra levar, mas começaram outras a vir outras coisas na minha vida, e aí eu cheguei no meu limite emocional e tinha que abrir mão de alguma coisa. E aí eu falei com a minha mãe, e ela falou que eu podia trancar, e eu tranquei, nem pensei! Aí ela disse pra eu me inscrever logo num cursinho, então me inscrevi em um intensivo, porque já era o segundo semestre, no final de agosto, setembro… Era o vestibular tradicional, não era nem ENEM, então tive que escolher qual era o curso antes de fazer a prova, e eu não tinha a menor ideia de qual escolher. Eu não queria fazer nada na área da saúde porque pra mim era a mesma coisa de medicina, ia ver as mesmas matérias de novo… Eu queria mudar de área, conhecer outras coisas, porque eu estava muito angustiada… Aí pensei em arquitetura porque achava legal, bonito… Sempre gostei dessa parte de arte, de beleza, tanto que eu penso muito em ir pra parte de cirurgia plástica, mas aí conforme vamos caminhando na faculdade às vezes muda, mas eu gosto muito. E aí fui pra arquitetura, não era uma coisa que eu gostava, nem que eu pesquisava sobre, mas tive que escolher em duas semanas, fiz; mas ainda tinha teste de desenho, de habilidades específicas, aí eu pensei: meu Deus, como é que eu vou passar no teste de habilidades específicas, se eu nunca quis esse curso?! E eu rezava, se for pra passar que eu passe! E aí eu passei, nem sei como, no outro ano eu já comecei arquitetura na UFC, ainda passei pro primeiro semestre.

SUSANE- Isso é muita loucura né? A gente tem que decidir  vida inteira de trabalho em tão pouco tempo e em uma idade que a gente não sabe nada…

BRUNA- É muita pressão! Imagina a pessoa que passa dois anos pra escolher, pensando… Porque eu não tinha pensado, sempre foi medicina, não cogitava outras profissões, e aí eu tive que escolher qualquer outra coisa em duas semanas; foi bem tenso. E aí comecei o curso com um pensamento legal, desenhando embaixo das árvores, desenhando o que eu tava vendo… Era bem legal. E aí foi passando e vieram os projetos, projeto arquitetônico I… Aí começa a vim a pedreira; ali eu comecei a ver que arquitetura não era férias, quem passou pra arquitetura sabe que são muitas noites sem dormir pra entregar projeto. Eu notei a diferença da medicina pra arquitetura, que a medicina tinha que le muito, estudar muito; e na arquitetura tinha que fazer muitas coisas, executar, fazer projetos, não passar muito tempo sentado estudando; mas exigia tempo igual. Quando eu comecei a estagiar, eu já comecei a ver que eu não queria trabalhar com aquilo, era legal, mas não era aquilo que eu queria pra mim.

SUSANE- Como era seu estágio? O que você fazia?

BRUNA- Fazia projetos de arquitetura. Como eu era estagiária, o arquiteto falava que queria um loteamento, uma casa… E dizia como eu devia fazer, aí eu fazia várias opções e ele dizia qual tinha gostado, qual eu podia seguir em frente, fazer mais detalhes… Então era assim, projeto mesmo. Aí se eu fosse pra lá, como contratada mesmo, eu ia fazer praticamente a mesma coisa, só que com mais autonomia; mas eu achava meio monótono, só sentada em escritório…

SUSANE- E foi bom que você viu isso, porque já pensou se não fizesse estágio e esperasse vários anos depois de formada pra descobrir isso?!

BRUNA- É… Pra sentir como era a vida profissional. Eu passei ainda por três escritórios, fiz também interiores, fiz na prefeitura… Então eu vi como era, como ia ser a vida depois, vi como trabalhavam e eu não senti muita afinidade com essa vida de escritório, e lidar com cliente… Aí eu pensei em desistir, tava me sentindo mal no curso, porque vai chegando no final e ele vai pesando, exigindo mais de você… O meu trabalho de graduação quase que eu não termino! E eu casei no meio da faculdade, e meu marido me ajudou demais, ele virava noites comigo pra eu terminar meu trabalho. E eu pensei: eu não posso ficar só desistindo de faculdades, entrando e desistindo, não vou fazer isso com a minha vida, vou pelo menos terminar uma e depois eu vejo; porque como eu tinha saído da medicina eu ficava com muito medo de voltar e sentir tudo aquilo de novo, mas eu sabia que aquilo ali era minha vocação, eu nunca tinha me afastado, nunca tinha parado de pesquisar as coisas que eu gosto na área da saúde, sempre continuei vendo cirurgias no instagram… Essas coisa que eu gostava mesmo! Mas não queria dar o braço à torcer, “se eu saí é porque não era pra eu fazer”. Eu ainda passei uns seis meses depois que eu me formei pensando o que eu ia fazer, porque eu falei pro meu marido que eu não queria trabalhar na área e perguntei pra ele como é que ia ser, e ele disse que tava tudo bem, por enquanto conseguia sustentar sozinho; e esse apoio que ele me deu foi muito incrível pra mim.

SUSANE- Porque se tivesse que decidir rápido, em  duas semanas de novo, talvez você não tivesse feito a escolha certa.

BRUNA- Exatamente. Nesse período eu conversei com as minhas amigas a época de medicina, perguntei como elas estavam, se elas estavam gostando… Conversei com os meu pais, perguntei pra minha mãe o que ela achava, pro meu marido… Fiquei conversando com várias pessoas e pensei muito também; porque eu tava sete anos parada, tinha estudado só pra arquitetura por seis anos e eu não lembrava de mais nada; da vez que eu voltei, pra estudar da medicina pra arquitetura, eu já tinha esquecido tudo. Eu não lembrava o que era número atômico, não lembrava como resolvia uma equação de segundo grau… E aí eu já tinha passado por isso na época da arquitetura, pra eu estudar de novo, vou estar pior!

SUSANE- Então quando você começou a estudar, viu que tinha começado praticamente do zero?

BRUNA- Isso! Eu tava pensando se eu voltava a estudar ou não, porque quando eu voltei a estudar pra arquitetura, eu não lembrava de nada, então agora eu não vou lembrar de nada “ao quadrado”, e vai ser muito complicado, posso não passar, demorar muitos anos, vai ser um vestibular muito difícil, vou ter que me dedicar muito, mais seis anos pela frente ou mais, ainda tem especialização, vou ver todos os meu amigos já formados, será que não é melhor eu só fazer um mestrado… Entendeu? E eu não suportava a ideia de trabalhar com arquitetura, era uma coisa que eu já tinha certeza, eu até faço pra mim mesma, fiz a cozinha da minha irmã, mas eu não queria trabalhar com isso! Aí eu pensei daqui a dez anos eu vou me arrepender muito se eu não tomar essa decisão, aí eu pesei tudo, sabia que ia ser difícil… E aí eu decidi em maio, e já decidi no foco, decidida, sabia que era isso mesmo que eu queria fazer. Então comecei a pesquisar sobre métodos de estudo, se eu deveria estudar em casa proar cursinho, “caí” nos seus vídeos, então a gente vai pesquisando tudo! Eu tinha que saber qual o melhor método, estudar de uma forma bem inteligente, sem ficar perdendo tempo, com uma mente mais concurseira, mais estratégico, sem a frescura de menina do terceiro ano que eu tinha; como eu passei pela arquitetura que a gente tinha que “dar o sangue”, virar noite mesmo, eu me decidi estudar sem frescura! Eu tava disposta a fazer isso, mas quando eu fui pesquisando, vi que virar noite não era executável, não era uma coisa que me faria alcançar bons resultados, aí comecei a fazer essa escolhas. Então eu percebi que não conseguiria estudar pela internet, sozinha; fui atrás de cursinho porque eu me conheço, sabia que a longo prazo eu não ia ter disciplina e também não tinha noção de cronograma, então fui pra um cursinho.

SUSANE- Eu acho que quem tá começando, com base zero, não sabe nada, nem as matérias; talvez seja melhor um cursinho mesmo.

BRUNA- Sim, eu não sabia nem o que caia, não tinha a menor experiência com ENEM, porque eu nunca tinha feito, e era outra mudança. Aí eu fui ligar pros cursinhos, já era maio, eles falaram que não era bom eu entrar agora, que eu teria perdido muita matéria, que era pra eu esperar o segundo semestre e fazer o intensivo. E nesse tempo eu fiquei em casa estudando sobre estudar, enquanto não começava o cursinho fiquei em casa pesquisando sobre esses métodos, e aí em julho abriu um curso de férias em um cursinho muito bom, e eu fiz esse curso que era de matemática e física, aí já deu pra começar a me acostumar a estudar de novo, me acostumar a assistir a aula, já ir pegando o ritmo pra quando eu começasse em agosto já estar naquela rotina acostumada a estudar. Foi incrível começar por matemática e física que eram as coisas que eu mais tinha esquecido.

SUSANE- Nossa, eu achei muito boa a ideia de começar com duas matérias só, porque às vezes é muito chocante você começar com dez matérias de uma vez.

BRUNA- Foi. E foi bom esse curso de férias, porque eles conseguem dar em duas semanas… porque são quatro horas por dia, em duas semanas; então é quase o primeiro semestre inteiro, então é muita matéria, só que bem intensivo, você não perde o fio da meada, e eu achei incrível! E aí começando por essas duas já me dava a tranquilidade de que ia dar certo, já achava as outras mais tranquilo… E o que eu sentia? ando eu ia pras aulas no começo… Lembra aquele vídeo do flow né? Nossa, eu ficava com tanta ansiedade durante a aula, porque eu não entendia, aí o professor falava assim: Eu não vou perder tempo resolvendo essa equação de segundo grau, porque vocês já estão cansados de saber. Mas eu não sabia, porque eu não lembrava, e eu tinha tanta vontade de chorar com aquilo, mas aí eu pensava: não, eu tenho que me acalmar; porque na arquitetura eu chorava mesmo! Mas agora não, eu vou tentar controlar meu emocional pra conseguir sobreviver a isso aqui.

SUSANE- É, isso é super importante, porque você até aprende melhor quando se acalma.