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[Podcast] #8 Como estudar como um gênio em 5 passos: Einstein, Poincaré, Kekulé, Carol Dweck


Hoje eu vou falar como gênios estudam e têm novas ideias.

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Como estudar como os gênios?

A ideia é a gente adaptar os métodos que eles usavam no nosso dia a dia. Vai ser um episódio cheio de histórias que tirei das biografias de Einstein, Thomas Edison, Poincaré, Salvador Dali, e da cientista Carol Dweck.
Vou falar de 5 características que pessoas muito boas em uma área costumam usar, vai mais pro lado das ciências e matemáticas, mas você pode usar em qualquer coisa que use criatividade.

1 – aprender um pequeno conceito por vez

Ao ver um assunto muito difícil, você pode se desesperar e desistir OU pensar “qual a pequena coisa que eu posso aprender aqui hoje?” 
Pessoas boas em matemática são pessoas que conseguem aprender um conceito por vez, e depois empilhar esses blocos de conhecimento.
Já quem é ruim em matemática, acha que é ruim porque não consegue aprender tudo de uma vez, e acha q essa abordagem de aprender um pouquinho por vez é besteira.
Acha que o certo é pegar tudo de primeira magicamente.
Mas agora você já sabe, sempre que se deparar com um assunto difícil, super complexo, e quando você ver que está criando cortisol, está se estressando, pause, respire, pense: “tem alguma coisinha que eu posso aprender aqui hoje?”E aí todo dia você volta no assunto, aprenda um pouco por vez
Por exemplo, eu lembro que a respiração celular pra mim foi assim, não a parte superficial, mas aquelas equações de NAD FAD e formação de piruvatos, eu não peguei de primeira. Fui pensando, que pedacinho da matéria posso aprender hoje? E cada dia aprendia um detalhezinho, que alguém poderia achar irrelevante, mas no contexto de uns 10 dias eu já entendia muito bem o assunto, a ponto de conseguir fazer todas as questões discursivas.
Na prática, eu estudava esse assunto por uns 10 min no começo do tempo de biologia, e depois seguia com a matéria que eu estava estudando de biologia.

2 – Mentalidade fixa x flexível 

Carol Dweck é uma cientista de psicologia de Stanford, ela fez um trabalho muito legal mostrando porque algumas pessoas são um sucesso, realmente são boas em esportes, em matemática, em ciências e outras são péssimas.
E a diferença é o mindset a mentalidade, achar que consegue ou que não consegue fazer uma coisa.
O que é mentalidade?
Mentalidade é a interpretação do mundo que você tem.
Você vê o mundo com os seus olhos, certo? Como você interpreta esse mundo vai definir sua vida inteira.
Por exemplo, se você acha que sempre consegue aprender os assuntos, que é capaz de aprender as coisas, você vai sempre se esforçar pra realmente conseguir aprender.

Trecho do livro: Mindset
Quando você entra em uma mentalidade, você entra em um novo mundo. No mundo da mentalidade fixa  o sucesso é provar que você é inteligente ou talentoso. Validando a si mesmo. No outro, no da mentalidade flexível, o sucesso é ir além para aprender algo novo. Desenvolvendo-se.
Na mentalidade fixa, o fracasso é errar. Obtendo uma nota ruim. Perder um torneio. Ser rejeitado. Isso significa que você não é inteligente ou talentoso. No mentalidade flexível, o fracasso é não crescer, não se desenvolver.
Agora o mais importante:
No mundo fixo, o esforço é uma coisa ruim. É uma falha, significa que você não é inteligente ou talentoso o suficiente. Se você fosse, não precisaria de esforço. No outro mundo, na mentalidade flexível, é o esforço  que faz você inteligente ou talentoso. É o esforço que te faz ir mais longe, é o esforço o responsável pelo sucesso.
Sensacional não?
Mentalidade fixa é você acreditar que a sua inteligência está definida, que é aquele teste de QI e pronto
A mentalidade flexível é você acreditar que você consegue tudo o que quiser com o seu esforço, você pode realmente conseguir tudo o que quiser se estiver disposto a fazer o trabalho.
Então vamos valorizar o esforço! Tem até uma frase do Michael Jordan, o esforço sempre ganha do talento, quando o talento não trabalha.

3 – Ame o que você tá fazendo e por isso pratique muito

Vou ler uma carta do Eintein pro seu filho Alberto
Meu querido Alberto (Mein lieber Albert)
Ontem recebi sua querida carta e fiquei muito feliz com ela.
Estou muito satisfeito por você encontrar alegria com o piano. Isso e carpintaria são, na minha opinião, para a sua idade as melhores atividades, melhor até do que a escola. Porque essas são coisas que se encaixam muito bem a um jovem como você. Toque principalmente as músicas no piano que lhe agradam, mesmo que o professor não as passe. Essa é a maneira de aprender mais, que quando você está fazendo algo com tal prazer que você não percebe que o tempo passa. Às vezes estou tão envolvido em meu trabalho que me esqueço da refeição do meio-dia. . . .
Se entender alemão, veja a carta original:

Então até agora vimos 3 coisas:
1 – aprender um pequeno conceito por vez
5 – Mentalidade fixa e flexível 
3 – Amar o que você tá fazendo e por isso pratique muito
Agora como usar os modos do cérebro para maior aprendizado e insight:

4 – Alterne entre  modo focado e difuso

Voltando pra Poincaré
Poincaré foi o último matemático universalista. Esse termo quer dizer que seu interesse não se restringia à matemática, ele também estudava ciências naturais, artes e psicologia. Como se visse matemática em tudo. 
Em um capítulo intitulado “Criação Matemática”, de 1904
  Os Fundamentos da Ciência: Ciência e Hipótese, Poincaré observa um processo profundamente aplicável não apenas à matemática, mas a qualquer disciplina criativa:
Eu estava trabalhando com funções, eu queria representar essas funções pelo quociente de duas séries;  a analogia com as funções elípticas me guiava.
Nesse momento, fui  fazer uma excursão geológica. Os incidentes da viagem me fizeram esquecer meu trabalho matemático. Tendo chegado no destino, entramos em um ônibus para ir a algum lugar ou outro. No momento em que pus o pé no degrau, a ideia veio a mim, sem que nada em meus pensamentos anteriores parecesse ter preparado o caminho para isso, que as transformações que eu usei para definir as funções fuchsianas eram idênticas às de Geometria Euclidiana. Eu não verifiquei a ideia; Eu não deveria ter tido tempo, pois, ao tomar meu lugar no ônibus, continuei com uma conversa já iniciada, mas senti uma certeza perfeita. No meu retorno a Caen, por uma questão de consciência, verifiquei o resultado no meu tempo livre.

Ele conta ainda outra história
Voltei minha atenção para o estudo de algumas questões aritméticas aparentemente sem muito sucesso e sem suspeitar de qualquer conexão com minhas pesquisas precedentes. Enojado com o meu fracasso, passei alguns dias à beira-mar e pensei em outra coisa. Certa manhã, caminhando sobre o penhasco, veio-me à idéia, com as mesmas características de brevidade, rapidez e certeza imediata, que as transformações aritméticas das formas quadráticas eram idênticas às da geometria não-euclidiana.
Depois ele fala sobre a procrastinação e o descanso necessário
ele fala sobre o valor do que nós, tragicamente, chamamos de “procrastinação”, que é de fato uma parte valiosa da criação matemática:
O mais impressionante  é essa aparência de iluminação súbita, a manifestação de um trabalho anterior longo e inconsciente. O papel desse trabalho inconsciente na invenção matemática me parece incontestável, e traços dele seriam encontrados em outras disciplinas. Muitas vezes, quando alguém trabalha com uma pergunta difícil, nada de bom é realizado no primeiro ataque. Então, a pessoa descansa,  e depois volta pro  trabalho. Durante a primeira meia hora, como antes, nada é encontrado e, de repente, a idéia decisiva se apresenta à mente. Pode-se dizer que o trabalho consciente foi mais proveitoso porque foi interrompido e o descanso devolveu à mente sua força e frescor.
Ainda assim, Poincaré tem o cuidado de salientar que, sem uma base de trabalho consciente prévio, essas “iluminações súbitas” não ocorreriam:
Há uma outra observação a ser feita sobre as condições deste trabalho inconsciente: ele só é possível, se for precedido e  seguido por um período de trabalho consciente. Essas inspirações súbitas nunca acontecem, exceto após alguns dias de esforço voluntário que parece absolutamente infrutífero e de onde nada de bom parece ter chegado, onde o caminho tomado parece totalmente errado. Esses esforços, então, não foram tão estéreis quanto se pensa; eles estabeleceram a máquina inconsciente e, sem eles, ela não teria se movido e não teria produzido nada.
Ele conclui com a seguinte frase :
O eu subliminar não é de modo algum inferior ao eu consciente; ele é capaz de discernimento; tem tato, delicadeza; sabe escolher, adivinhar. Sabe melhor como adivinhar que o eu consciente, já que consegue fazer isso onde o eu consciente falhou.
—-
Poincaré percebeu que sua habilidade de resolver problemas matemáticos dependia de duas partes do cérebro, a parte consciente, que travalhava durante as sessões de trabalho, e a parte subconsciente, que criava as soluções mais elegantes, aparentemente sem esforço. Aquele eureka durante o relaxamento do banho, ou da viagem. 
Com as evoluções da neurociência a gente sabe que o que muda na verdade é a forma de operação do cérebro. 
Os modos principais de operação do cérebro são o modo difuso e o modo focado. O modo focado é o modo concentrado.O modo difuso e o q vc usa ao fazer um intervalo bem feito, seu cérebro inteiro acende.  Existem vários artigos na literatura médica falando como eles funcionam, mas vamos deixar pra saber os detalhes lá no 4o,*5o ano da faculdade.
Mas o lado difuso só vai trabalhar, quando vc trabalhou no concentrado por um bom tempo, quando entende bem o problema, pode ainda não saber a resposta, mas você entende as condições de contorno e em geral como funciona o problema que você quer resolver.
Tem até uma dica prática, você pode começar de manhã estudando a matéria mais difícil, mas quando estiver difícil de chegar na solução de um problema, você pode ve-lo antes de dormir. E vai funcionar como se seu cérebro ficasse trabalhando no problema durante o sono.
História de Kekule e o benzeno 
Kekule fez sua pesquisa, sabia as propriedades do benzeno, a fórmula molecular, passou anos estudando compostos químicos e um bom tempo estudando essa molécula em particular, que tinha propriedades muito diferentes dos outros hidrocarbonetos.
Mas ele não conseguia pensar na conformação molecular. Era impossível, ele dizia que estava além de suas capacidades. Mas mesmo assim ele continuava pensando, ele criava uma hipótese, testava mas não dava certo.
Até que um dia ele foi dormir pensando, e ele acordou no meio da noite. Ele teve um sonho, ele sonhou com uma cobra em chamas comendo o próprio rabo.
Uma cobra em chamas comendo o próprio rabo.
É isso, é isso que eu estava querendo saber. Essa é a fórmula do benzeno.
Isso me dá até arrepios.
Você vê o quanto o inconsciente é mágico.
Talvez você nem use esse processo agora estudando pro vestibular, mas lá na frente, você vai lembrar desse sonho de Kekulé.
O sonho de Kekulé é famoso, tem até quadros

5 – Muita imaginação – “Como ser o fóton”

Agora pra gente acabar, o 5o ponto para estudar como um gênio da matemática é usar muito a imaginação, fazer analogias, tentar ver padrões, mas principalmente deixar a imaginação fluir.
Eistein aos 16 anos…
Se eu me imaginar como um fóton, seguindo na velocidade da luz, eu observaria a luz como um campo eletromagnético em repouso, embora oscilante. Mas isso não parece acontecer, nem na experiência prática nem nas leis de Maxwell. No referencial desse observador, cria-se um paradoxo sobre o movimento esperado. Esse paradoxo é a semente da teoria da relatividade.

Ele passou anos e anos pensando nesse paradoxo, de as leis de maxwell não baterem com as leis de Newton.
“Um dia, por volta de maio de 1905, Einstein foi visitar seu bom amigo Michele Besso, que também trabalhava no escritório de patentes, e expôs as dimensões do problema que o haviam intrigado por uma década.
Einstein apresentou a questão: a mecânica newtoniana e as equações de Maxwell, os dois pilares da física, eram incompatíveis. Um ou outro estava errado. Qualquer que fosse a teoria, a resolução final exigiria uma vasta reorganização de toda a física.
Einstein repassou o paradoxo de competir com um raio de luz.
 Mais tarde ele recordaria: “O germe da teoria da relatividade especial já estava presente naquele paradoxo”. Conversaram durante horas, discutindo cada aspecto do problema, incluindo o conceito de espaço e tempo absolutos de Newton, que parecia violar a constância de Maxwell da velocidade da luz. Eventualmente, totalmente exausto, Einstein anunciou que foi derrotado e desistiria de toda a missão. Não adianta; já falhei.
Embora Einstein estivesse deprimido, seus pensamentos ainda estavam funcionando nos bastidores da sua mente quando ele voltou para casa naquela noite. Ele se lembrou de andar de bonde em Berna e de olhar para a famosa torre do relógio que dominava a cidade. Ele então imaginou o que aconteceria se seu bonde fugisse da torre do relógio à velocidade da luz. Ele rapidamente percebeu que o relógio pareceria parado, já que a luz não poderia alcançar o bonde, mas seu próprio relógio no bonde iria bater normalmente. ”

O quarto artigo de 1905 de Einstein, que ele escreveu em junho, foi “Sobre a eletrodinâmica de corpos móveis”, popularmente chamado de “A Teoria Especial da Relatividade”. Isso diz que:
1- Se houver dois objetos, apenas dois, e nada mais, não há uma maneira verdadeira de saber qual objeto está realmente em movimento e qual objeto não está.
2- A velocidade da luz é a mesma para todos os observadores, isso é contrário à teoria newtoniana de que a velocidade da luz não é fixa.
Muito interessante essa imaginação pra resolver problemas de física, você não acha?
Se eu fosse citar tantos mas tantos físicos e químicos que usam ou usaram a imaginação pra resolver problemas e questões a gente não terminaria esse episódio.
Só quero que você guarde essa sementinha, essa ideia de imaginar, imagine os raios passando no espelho, na lente, a refração na água, a interferência luminosa, a multiplicação celular, o coração batendo e levando sangue por todo o sistema circulatório, tudo o que estudar.
Vou te contar que tenho saudades dessa época em que podia estudar o dia inteiro.

Conclusão

Hoje foi um episódio um pouco diferente, cheio de histórias, espero que você não tenha dormido.
Então os 5 pontos de hoje foram:
1 – aprender um pequeno conceito por vez
Quebre tarefas ou capítulos grandes em pedaços que você pode aprender em uma sessão de estudos
2 – Mentalidade fixa e flexível 
Tenha uma mentalidade flexível, acredite que o esforço pode te levar onde você quiser ir
3 – Ame o que você tá fazendo e por isso pratique muito
Tenha prazer no estudo!
4 – Alterne entre  modo focado e difuso
Intercale sessões de alta concentração, com intervalos bem legais.
Além disso, durma bem, quem sabe você não descobre alguma coisa nos seus sonhos.
5 – Muita imaginação – “Como ser o fóton”
Use sua imaginação durante o estudo, vai ajudar a ir mais fundo na matéria, o famoso aprendizado profundo, e a memorizar melhor.
O que você achou do episódio de hoje? Conte nos comentários!

Susane.

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